"Christmas, Christmas time is near
Time for toys and time for cheer"


Fim de ano. Como sempre aqui, atrelado a mesa, com um lindo e mimoso presentinho sobre ela, muito bem embrulhado com um laço azul, feito por mim, não consigo fugir à isto tudo, esta coisa de espírito natalino.
Mas o que seria isso? Conheço espíritos de porco... Ou o espirituosismo de falsos entusiastas... Espíritos da cara branca de talco que mal assustam criancinhas de 3 anos de idade... Mas estar no espírito do natal...
Se eu entender por isso pessoas correndo malucas às lojas, entupindo as filas de presentes mal pagos pra pessoas mal amadas, bom, isso se assemelha a qualquer filme hollywoodiano que se passe nesta época. Tanto faz se comédia pastelão ou romântica, e bom, esse espírito verde, branco e vermelho de pinheiros com coca-cola está por todos os lados, confesso.
Mas pode ser "espírito" algo tão "material"?
"- Ô seu moço! Me dá dois espíritos natalinos aí, embrulhados pra presente!!!"

***
E lá ia eu, apressado entre as pessoas, com pacotes e sacolas nas mãos.Refazia a lista, via se não tinha esquecido de ninguém. Não, não, estava tudo certo, estava tudo ali.
Via meio que fascinado todas aquelas luzes... Ah, disso sim gostava... As luzes! Que juntamente com aquela brisa noturna dava um ar romântico e um certo charme e graça àquela época do ano. Mas que raios as pessoas insistem em esbarrar na gente, apenas para le,mbrar que aquele mundo real existe no meio das luzinhas!!!
Toca pra casa que é melhor.
Mas antes passar na casa da prima, deixar os pacotes que ela pediu pra comprar. Biscoitos, chocolates e um bom vinho. Seria muito chique a ceia dela. Tem de ir à redação, deixar as castanhas e a camiseta que a cristina, a estágiária - ia dar de presente ao namorado que ela arrumou faz nem três dias, e ela pediu que eu cmprasse por que ela não teia tempo de ir fazer as unhas e comprar o presente. (Estranho essa das pessoas procurarem desesperadas companhia nesta época do ano) Passar também na casa da Rita, vizinha do andar de cima, deixar os pacotes que ela pediu de castanhas e nozes, e este monte de panettone que ela vai dar às criancinhas no sinal... Tão boazinha ela...
Ufa... Cheguei em casa... 24 de dezembro de mais um ano como qualquer outro... O cheiro que vem dos apartamentos vizinhos aguça qualquer fome! Melhor cuidar em requentar o frango do almoço, abrir minha sidra e esperar na varanda do quarto de luzes apagadas a passagem do tal velhinho... Quem sabe ele me dê alguma razão de presente...

.:O Inferno São Os Outros:.


Fechava os olhos e continuava a correr...
Quando achava que o coração explodiria e a garganta se abriria para que os pulmões pudessem se expandir por ela, parava um pouco e andava apenas muito depressa naquela chuva fina que caía. nada de importante, apenas o suficiente para irritar pelas finas gotas que caíam machucando-lhe o rosto.
Apertava o passo, sem saber se iria chegar onde queria, ou onde queria chegar talvez fosse o que não sabia, mas trazia consigo os fones de ouvido e a surrada bolsa carteiro a tiracolo.
O barulho das ruas nem de longe diminuíam a sensação dos gritos em sua cabeça. Pedia por favor para pararem, mas aqueles gritos, e choros e apelos infantis não lhe deixavam pensar ou ouvir mais nada. Era mais que perseguição, estava em todo lugar.
Os fones agora eram inúteis.
Então acelerava, e acelerava, e a chuva antes fina parecia engrossar. Tal qual sua angústia diante daquilo tudo. E se chegasse em casa, o que encontraria? O que diria? Entraria sem dizer nada como o costume e enfrentaria aqueles pequenos olhares inquisidores a lhe questionar por onde andava?
E se não fosse para casa, o que lhe esperaria? Em que quarto se esconderia?
De olhos fechados continuava a correr. Poderiam pensar que era de ladrão, que perdera o horário, o ônibus, ou apenas tinha pura ansiedade, e corria. Agora molhava-se mais e mais naquela chuva, no calçadão da praia, a bolsa pesava embebida em toda aquela água, mas agora seu rosto era machucado pelo quente das lágrimas que desciam grossas por suas faces. Não saberia explicar o motivo delas, apenas sentia aquele aperto agoniante nos olhos, como se lavasse a alma de dentro pra fora enquanto a chuva lavava seu corpo de fora pra dentro. Era maior do que si. Mergulhava mais e mais naquela espécie de hipnose física: barulho de água nos ouvidos, coração acelerado da corrida, o choro das crianças em sua cabeça, as buzinas dos carros em seus ouvidos...
Não havia visto a reforma da calçada e menos ainda o buraco cheio de pequeninas pedras em seu caminho, inevitavelmente foi ao chão.
Agora sentia que parecia também uma daquelas crianças, e quis chorar mais ainda, olhando em volta todos lhe olharem. Apertou ainda mais os olhos, contendo tudo o que podia em si, concentrando-se para querer acordar se aquilo fosse um pesadelo.
Surpreendentemente a chuva cessou de vez, sendo substituída por um ar extremamente frio, as buzinas dissiparam-se, as pessoas não haviam mais; abriu os olhos já de volta à realidade branca e de paredes acolchoadas com cheiro de calmantes daquele quarto de hospital...

.:Presente:.


A falta do controle
A mágica do abismo
O desejo da vertigem e da dor
O alcance do outro, sonho
O risco do automóvel
A falta de resposta depois

É como se a gente não soubesse
Pra onde é que a vida foi
E tentasse segurar o que ficou

O caderno de empregos
A areia entre os dedos
O "não" mesmo antes de começar
A queimadura interna
A infinita espera
A vergonha de si mesmo no olhar

É como se não houvesse
Razão para sonhar
E o real parou no mesmo lugar

Partir e voltar inteira
A companhia perfeita
O apoio do que chamo de amor
O pouco de esperança
A agonia da infância
Um beijo que aplaca esse som

E você não se sente em casa
Nem no escuro do seu quarto
E nada é passado

.:Lua Aaliyah:.
Apenas agradecendo a Ivana por, muito delicadamente, expressar com palavras que ela leu aqui o que ela quis no blog dela...
Sabe, isso é bacana, escrever algo com o que as pessoas se identifiquem. ainda quero escrever algop que alguém leia e diga: putz, é meu texto! sou eu aqui!!!
Rsrsrs

pretensões de uma sonhadora lua...

Anyway, tô sem pc, por isso tão poucas postagens.
Aliás, tô com um texto prontinho pra postar, mas falta uma supresinha meio antiga meio inédita aqui no blog, quando eu publicar, saberão. nada de mais, mas bem importante.

Ah, visitem o blog da Ivy! É muito bonito mesmo!
www.cuidadocomosbaobas.blogpot.com

Volto em breve!
;)
"Quando uma criança percebe que o adulto comete erros, ela torna-se adolescente...

... quando começa a perdoa-los, ela vira um adulto"




Não sei quem escreveu/disse isso. Mas achei interessante.
Como eu já sabia...

textos longos ninguém lê...

.:Of Days:.


Havia sido tudo de certa forma tão desastroso, que sabe quando algo sai tão errado que você fica adormecido, num estágio tal de dormência que parece que nada daquilo é real? Estava assim, num dia qualquer como seria qualquer outro dia, com coisas funcionando como qualquer outra coisa funcionaria, e parecendo dar tudo errado como a qualquer pessoa pareceria.
Apenas chegou em casa, e deitou-se no sofá, sem desejo e sem vontade. Sentia-se mal do estômago, tudo revirava lá dentro. Achava até que tinha febre, não sabia, mas não tinha ânimo.
Pés jogados na mesa, camisa desabotoada, calça aberta, fitava o teto como se tentasse espantar dele seus fantasmas. E lia em casa teia de aranha todas aquelas palavras que sabia verdadeiras, ditas por quem menos esperaria numa situação daquelas, como numa entrevista com a morte, onde ela lhe diz as respostas que você sempre quis ouvir...

Pode não ser o fim da estrada.
Eu bem queria te dizer um monte de coisas, mas apenas digo isto, que pode não ser o fim da estrada.
Por muitas vezes vais te desesperar, e embriagar teu corpo com os mais variados licores, uns nem tão puros como outros, e achará que nada mais faz sentido nesse novo mundo que salta bem em frente aos teus olhos. Por que quando você faz de uma única coisa o significado de tudo, essa coisa tende a se perder, é ilogicamente certo. E com isso toda a certeza flui e o chão se abre diante de teus pés.
E vais chorar e procurar desculpas pelas rachaduras da calçada, ou da tua alma, ou não encontrará problema algum onde visivelmente existem todos os problemas do mundo. E ninguém te entenderá. Não, ninguém entende o que se passa na mente de uma pessoa quando não se passa nada na mente de uma pessoa que finge não passar nada em sua mente. Ninguém entende quando você fica distraída olhando pela janela do carro enquanto ele rabisca qualquer coisa naquela folha da propaganda do prédio que juntos vocês disseram que iam comprar. E você olha de lado, como quem não tem muito interesse, assim, como quem não quer nada, como aquela namorada que vai falsamente distraída caminhando em direção à loja de chocolates para que lhe comprem um, você olha sem prestar atenção na esperança que ele simplesmente lhe mostre o que ele rabisca tão interessadamente. Mas ele pára e se distrai com algo qualquer lá fora, e num descuido você tem acesso àquelas palavras tão misteriosamente desejadas. E verás que não se trata de nenhum poema ou canção de amor à sua pessoa, não mais do que anotações cotidianas, e voltarás ao teu silêncio em direção ao sinal sempre vermelho em seu caminho. Vais corar não de vergonha. Nem de raiva. Se sentirá tola, a vida é isso.
Ninguém entenderá tua falta de respostas. E formularás mil perguntas para explicar o óbivo, se chatearás com o absolutamente nada. Ficarás doente, a febre tomará conta de teu corpo enquanto absolutamente nada acontece, a não ser a falta de algo para acontecer, e essa falta é o que te transtorna.
Vai te afogar em trabalho, e criar mil e uma situações descartavelmente imprescindíveis, em que só você poderá resolver, quando na verdade qualquer pessoa sabe resolver, exceto você, claro. Mas procurará, e se chateará por não conseguir, e se sentirá fraca e inútil, procurando desculpas pra tua inutilidade naquilo que não sabes fazer, deixando de lado todo teu suor e esforço, relegados a um segundo plano insgnificante e esquecido. Não serás modesta ao fazer isso, mas por puro egoísmo te trancarás num mundo malfeito, apenas por autojustificativa.
Lembrarás de quando criou coragem para falar sobre amor e estrelas, por que tudo é amor e estrelas. Tudo é essa coisa forte, brilhante, intensa, misteriosa, mas que um dia do nada explode, cai e morre. Por que quando a gente olha praquele céu estrelado, cheio de pontinhos pretensamente ofuscantes, plenos de um significado tão inventado quanto a raça humana, estamos na verdade observando o passado, de milhares de anos. Uma vez que o passado nos persegue, nosso presente é fadado a olhar pro céu e olhar pra ele, passando. Um passado que sequer existe mais, mas que você olha pra ele toda noite. Ele parece tão bonito de baixo, de longe. Mas se chegar perto, não agrada os ohos e machuca quem pára pra olhar assim, bem de perto...
Assim como de perto eu ouço tua respiração e quase sinto tuas lágrimas a me encharcarem a camisa xadrez, eu sei, vais chorar como julgou nunca ser capaz de chorar na vida, mas uma vez você também não julgou estar enganada como nunca esteve antes, julgou odiar como nunca odiou antes, julgou julgar como nunca havia julgados antes?... Não existe um antes, apenas o depois, que dá sentido ao agora.
E sem o teu depois, não tem mais sentido agora. E agora, sem sentido, sem depois, nada mais resta a não ser a alma transbordando pelos olhos, e poros, te fazendo vomitar no tapete verde cada segundo de todo o tempo da eternidade sem sentido, que nem essas palavras.
Perderás todo o sentido. Mas repito, não é o fim da estrada. Não ainda.

E realmente não havia sentido. Não havia sentido o tempo passar, nem que a fome chegara e fora embora, nem que a idade já pesava em decisões mal-feitas. Pegou um livro qualquer na estante e leu até adormecer. Mas não tinha certeza de que o dia seguinte seria melhor...

.:Espelho:.



Ele ficava sempre ali sozinho, sentado no canto. Sozinho e isolado. Eu, que já não estava mais sozinha, mas naquele dia sentia dor, fiquei a observá-lo.
Não que ele fosse bonito ou algo do tipo, antes pelo contrário, parecia um respeitoso senhor de idade. Havia nele um qualquer coisa de estranhamente familiar. Não pelo cigarro que fumava, visto que esse, afortunadamente, não é um hábito meu. Talvez o olhar distante por detrás das lentes fosse algo que eu já tivesse presenciado algumas vezes.
Todas as noites ele estava impreterivelmente lá. Nem trazia nas mãos livros ou cadernos. Sequer trazia alguma caneta, anotação ou qualquer indício que o denunciasse como algum aluno da universidade.
Confesso que no começo achei que somente eu o via ali, no canto. As pessoas passavam e o ignoravam, ninguém parecia dar conta dele ali. Supus ser ele minha consciência, fruto da minha imaginação, meu alter ego, algum encosto, espírito zombeteiro, enfim, ou que eu simplesmente visse "coisas". Foi numa noite em que o Paulo me falou "Eu tenho pena desse senhor, sabia? Sempre tão sozinho..." que então eu me certifiquei que não tinha enlouquecido e nem era dotada de qualquer tipo de poderes extra sensoriais.
Mas me dei conta também que era mais ou menos isso que aquele senhor despertava em mim também: um sentimento de algo como pena.
A solidão é sempre algo penoso. Quem a sente, ainda que por escolha, pena por algo irrealizável, ew quem a vê, como eu, sente pena por quase conseguir tocar essa espécie de aura que as pessoas solitárias têm.
Já notou? Pessoas (verdadeiramente) solitárias têm algum quê de mistério indefinível. Uma dolorida sensualidade que atrai o olhar, e prende. Uma vontade de se aproximar e uma intocável necessidade de se afastar exatamente para manter aquela imagem só. Eles parecem ter as chaves do céu e os cadeados do inferno.
Mas são solitários. E aquele homem ali sentado já parece desconfiar de tanto eu olhar pra ele. Amassa a garrafinha de água visivelmente incomodado. Deus, o que há de familiar naquilo tudo? Que traço tão reconhecível é esse que não consigo definir? Se bem que, olhando assim com atenção..., não, ele não se parece com meu pai...
E o incômodo de olhar o faz levantar e partir. E então, nessa mesma hora é que o paulo me abraça, e enquanto John Mayer pergunta em sua música que toca nos meus fones de ouvido se ele seria amado quando ele não é ele mesmo, e que me dou conta: aquele homem parece ser um reflexo do ser como já fui um dia, o futuro que poderia ter sido e que o presente (felizmente) não deixou...

.:Narciso:.


E: Vai! Já Chega!

U: Não, a não ser que você me explique o porquê.

E: Simplesmente não há porquê. Não há nenhum motivo e não possuo respostas para essa tua ânsia de perguntas.

U: MAs isso é tudo algo ilógico. Eu estou onde sempre estive e você simplesmenteme diz para ir embora?

E: Mas acontece que eu te amo!...

U: Então eu cada vez entendo menos.

E: E eu não sei pra quê essa sua necessidade de lógica, de sentido. As coisas simplesmente são e acontecem. Só.

U: Mas eu só queria saber de onde veio tudo isto, como terminou. Podemos não depender da lógica ou não precisar da razão em nossa vida, mas isso aqui é sentimento, é preciso ter algum sentido desntro de tudo o que tenho sentido...

E: Eu só queria que você me fizesse companhia...

U: E...?

E: E nada. E você esteve o tempo todo ao meu lado, e segurou a minha mão, e me beijou os olhos quando tive medo do escuro, e cuidou de mim quando quis e quando precisei. E com isso você reformou o meu jardim, e espantou os meus fantasmas. Você tirou toda a poeira desta velha máquina enferrujada e ela voltou a funcionar. E pulsar. E me fez feliz, e eu te amei, amei como criança que ama o seu bichinho, achando que está cuidando dele quando na verdade ela sabe que é cuidada por ele...

U: Talvez eu comece a entender... Mas... E onde tudo se encaixa nessa história?

E: Nessa necessidade que sinto de ti. Já chega!

U: Olha, eu tentei te resgatar quando te vi à deriva. Te embalei em meus braços velando para espantar cada mancha em teu sono. Eu quis te dar uma paz e serenidade que é merecida para quem passou tantos anos numa guerra consigo próprio. Quis dar sem precisar ter, apenas por ver nos teus olhos baixos de criança abandonada uma vontade latente de amor e lactar deste amor. Eu sinto muito por você. Sinto muita coisa mesmo. Mas esse amor incondicional de só querer o bem do outro a qualquer preço, de ser capaz de abrir mão pela felicidade, isso eu não sei sentir não. Eu nunca quis te ter, apenas sonhei em te completar para que continuássemos sendo dois...

E: Perdão... Eu me traí quando vi o amor refletido no espelho...

.:A long, long time ago:.



Não, não há culpados. Ninguém tem culpa do que aconteceu. Não me pergunte pelos erros do passado e assim, quem sabe, eu te perdoe os teus...
Quisera a gente poder saber quais seriam as consequências de nossas escolhas, a gente não se puniria tanto por tudo o que aconteceu. É sempre tão difícil lidar com as atitudes dos outros, principalmente se este outro é você. Mas não, não há como te condenar pelos teus excessos e pelas minhas faltas, ausências. Fica sempre a sensação de que quando ainda temos algum tempo de sobra, a gente acaba chegando cedo demais. E só nos resta esperar que o tempo passe e alivie a pressão no peito e nos olhos.
Mas eu acredito que o pior é nunca ter a certeza do com quem acontecer. E todas as receitas para te esquecer me restam insossas e falíveis. Vai ver o céu nublado seja menos misterioso que todas as escolhas e atitudes.
Acontece que eu tinha imaginado tanto, e em cada devaneio só era latente o desejo de deixar tudo isso para trás, e num inexistente passe de mágica, simplesmente te guardar em meus braços, te protegendo de tudo o que aconteceu. Mas meu lado egoísta ás vezes insiste em dar mostrar de seu caráter e se pergunta quem vai saciar a vontade dele de esquecer o que te aconteceu também.
Não é simples, a gente sabe...

Dias de...

Por que faz tão pouco tempo que estamos afastados, e a mim muitas vezes parece que faz toda uma eternidade... E quando fico assim, abandonado no sofá ouvindo toda uma série de músicas que eram nossas, me vem à mente muitas e muitas lembranças mais... E más... E boas também.
E fico sempre pensando, imaginando que lembranças foram as que ficaram pra você de tudo o que aconteceu. Se é do meu sorriso enquanto eu dormia que você sempre disse que eu tinha... E que você adorava... Ou se você lembra de quando eu te molhava com a mangueira quando a gente lavava o carro. Minhas bermudas com chinelas, e o cabelo sempre bagunçado...
Eu daqui lembro de tanta coisa...
Sentir é sempre algo estranho, estamos completos, mas sempre nos falta. Lembro de você despenteada, chegando do mercado, cheia de sacolas, reclamando do salto que tinha quebrado no caminho de volta. E eu ria, ria perguntando por que você havia ido de salto fazer compras pra casa.
Hoje eu entendo.
Os saltos eram parte de você. Você poderia estar de tênis, descalça, de cara limpa, toda arrumada, mas aquela simplicidade elegante era parte de você. Lembro do seu sorriso quando me via, e pulava no meu pescoço. Muitas vezes me derrubava... Mas eu me sentia feliz.
E agora que a casa está vazia, eu quase, quase posso tocar isso que eu sinto no meu peito. E não, não falo do meu coração.
É que de repente tudo ganhou mais espaço, e intensidadde. E me sinto capaz de descrever a textura áspera, úmida, fria e pegajosa do que sinto agora. E ninguém devia, nunca, ninguém devia se perder assim, sem sinal, sem aviso prévio. As pessoas não deveriam partir sem avisar. Ou eu não deveria ter sido cego ao ponto de não ver tuas malas prontas pra sair da minha vida. E acho que dessa vez você demora a voltar. Numa outra vida somente, quem sabe.
De duas pessoas o que resta é apenas esse espesso vazio. E não há onde eu encontre o conforto que tinha antes. Em nenhum outro abraço. Pois quando paro pra fitar as estrelas, tem uma constelação a me lembrar do teu jeans surrado.
E cubro meus sonhos, meu corpo, meus ouvidos com os lençóis ainda manchados, repetindo pra mim mesmo que é apenas mais um dia, que logo tudo volta ao normal (mas não volta, a gente sabe), encolhido quietinho, esperando o filme da sessão da tarde começar, indo para outra vida, outra história ali da televisão, onde acabo te encontrando, e você, com flor no cabelo, me abraça e repete que agora passou... Já passou, está tudo como deveria ser... Pois mesmo quando você rouba minha paz ainda é tua imagem que me pacifica por dentro. E mesmo que a eterna sombra do que poderia ter sido e não foi me persiga, embaixo das cobertas, encolhido feito bebê assustado, ainda sinto tudo menos áspero e pegajoso, como se em cada mancha um sussuro teu me aquecesse maciamente, sempre repetindo que passou... passou... passou...

Pssssss....

.: Monólogo:.

- E é assim, em dias como hoje, que eu gosto de vir aqui, só pra ver o mar, conversar... Esse silêncio, fora das gritantes buzinas e sirenes dentro da cidade que matam e sufocam o nossa própria voz, me acalma...

- Aqui é mesmo muito bonito. Mas não sei bem por que me trouxe até a margem. Não podíamos ter ficado na casa ali em cima? Teríamos a mesma visão, sem tanta areia.

- Não teria nem metade da graça e do sentido. E parece que você gostou da casa nova... Lembra-me de te mostrar a louça rosada do banheiro. Ainda me recordo que você gosta das louças rosadas e brancas. Delicadas. Apenas perdoe-me a mancha de sangue ao lado esquerdo da pia. Acidentes ainda acontecem, e a cada dia controlo menos.

- Tudo bem, eu entendo. Aliás, eu fico muito feliz pela lembrança em algo tão aparentemente bobo como a cor da louça. E em todo caso, vai ser sempre uma lembrança. Dolorida, mas uma lembrança sua. E lembranças suas nunca serão demais. Eu entendo...

- Você sempre entende tudo, não é? Eu no auge da minha ignorância, busco compreender apenas por que o mar está sempre indo e vindo. E por que as pessoas apenas vão, e não voltam mais.

- Mas eu estou aqui e não irei a lugar algum!

- Mas eu irei. Não sei quando, mas em breve sei que irei. E não voltarei pra você. Não mais trarei aquele cheiro de café com torradas e geléia de amora pela manhã cedo. Você já acordou pra isso? Não mais o som do bolero invadirá teus ouvidos aos domingos de manhã, e nem o cheiro do mofo dos meus discos e fitas... Nem o odor permanente dos meus muitos livros recém comprados, que você sempre disse que leria, e nunca abriu nenhum...

- É mesmo, desculpe... Mas tem um...

- Não precisa dizer nada. Nem se desculpar. Há coisas mais importantes neste mundo. Quando você não sabe o que fazer, você tem a liberdade de escolher o caminho a seguir. Mas quando você sabe exatamente onde vai dar o fim da estrada e onde muro vermelho, cheio de musgo e lodo, vai lhe estancar o caminho, você não tem opções a não ser contar o tempo até a pancada. O trem não vai parar. Só resta reunir as coisinhas e bebê-las num gole só; despedir-se do sofá velho de xadrez cheirando a charuto, segurar uma repleta xícara de café e esperar... Amanhã quem sabe, talvez semana que vem, ou ao fim do Outono, mas uma hora a hora chega....

- Chega... E chega de falar assim que me põe lágrimas nos olhos... Se tudo o que sobe, desce; se aquilo que entra, de alguma forma sai, também deveria ser verdade que tudo o que nos vai, a nós volta. Mas calma, não me expliques nada. É certo que a vida, para ser vida, tem de ter seu grau de injustiça e ininteligível mistério. Apenas me deixe pensar que não vais por muito tempo. Que logo adiante te encontrarei sentado em cima desse muro, que nem o Humpty Dumpty!

- Ao menos você leu o Livro da Alice!

- Sim, eu li. E acredito um dia também te alcançar nesse teu Mundo das Maravilhas, onde queres tanto chegar, onde já não tens escolha de voltar. E observar teu céu, e tuas estrelas, e sentar em frente àquele teu mar, que de nada deve se assemelhar com este...

- E não se assemelha mesmo!...

- E lá seremos felizes! Agora estás tão ofegante. vamos, pega esse meu casaco, apenas repire. vamos entrar, o sol já se pôs. Vamos, dete-se no seu sofá xadrez enquanto te preparo uma xícara de café pra esfriar esse seu corpo. Nossa, como está gelado. Não me soltes, venha... A louça rosada nos espera...
E se é verdade que o tempo não volta,
também deveria ser verdade que os amigos não se perdem...


- Caio F. Abreu -

.:When You Lost... :.


É algo com o qual ainda é difícil lidar.
Seja quando sopra o vento e me vem o cheiro daquelas plantas recém cortadas, quando o aroma do café do apartamento vizinho invade a minha sala de estar ou quando o mofo que agora reina em teu armário me vem de forma incessante preencher as narinas... E então eu me recordo...
Recordo de ter estado ao teu lado sempre, até o último segundo. Recordo de tua cara de espanto, medo, alívio e nobreza quando sentiu que estava realmente acabando. E somente eu estava ali, a te afagar os cabelos enquanto teus lábios arroxeavam-se e teus jovens, muito jovens dedos enrugavam-se...
Sim, eu também tremia, mas não era de frio. Pelo contrário, naquele instante senti-me tomado por uma incalculável febre, uma angústia quase desesperada de gritar "Me espera! segura um pouco mais o elevador, não sobe sem mim não! Espera até que eu pegue mais algumas flores, mais algumas frutas... O céu está nublado, mas essas lasquinhas de sol escapando por entre a neblina é tão bonito... Dá até uma quase vontade de sorrir... Fica um pouco mais! Ainda nem te mostrei minha casa nova, o jardim dentro da varanda, espera um pouco mais! Me dá tua mão pra eu não me sentir só; eu sou grande, mas eu tenho tanto medo. Espera até eu compreender a indefinível dança dos girassóis da minha janela. Ajuda-me a contar as riscas xadrez de tua camisa..."
Mas você somente sorria... E sorrindo te vi entrar, e a porta se fechou. E teus olhos pálidos perderam de vez o brilho no qual tantas me espelhei para arrumar meus cachos que teimavam em me cair pela testa. E fortemente abracei tua sombra. Era como se ela se descosturasse de ti, e eu, little Wendy, não a devolvesse, para não te deixar voar... Egoísticamente a queria presa mim, para que eu, e somente eu, pudesse voar por teus passos por entre os campos, ou embaixo da cachoeira. Mas eu não passava de um garoto perdido.
Nunca havia me sentido tão infantil. Me sentia feito criança conversando contigo, sentado junto ao fogo, ouvindo tuas histórias, mas naquele intante em que a porta se fechou na minha frente e você se foi numa cama metálica, senti minha infantilidade crescer com o calor que me ardia o peito. Feito bolo que cresce no forno. No momento em que aquelas duas portas fizeram o "crash" final, todo o calor de nossos corpos se concentrou em meu pequeno peito. Pois não havia caixa de metal ou cama fria de hospital que roubasse você de mim.
E como sempre, movido pela pressa da cidade grande, você não pôde me esperar. Não pôde segurar o elevador ao fim do corredor amarelado. E eu fiquei ali, sentado naquela cadeira plástica, olhando apenas o vazio que restara naquele espaço sem graça. E minhas parcas flores murchas em minhas mãos remontam a tudo o que não conseguimos ser. Pois o último Pôr do Sol eu assisti só, e nessa noite até a Lua Nova se condoeu por não ter te ajudado a segurar aquela porta, e me enviou uma estrela com teu sorriso, que trago sempre aqui comigo, tatuado em minha alma tão marcada de lembranças...

.: Imitação da Escrita:.

Tanta vida, tanta coisa, tanto mundo de coisas vivas para serem vividas...
E a gente ali sentado, violão no colo, olhando as crianças, na praça verde, numa tarde de um dia qualquer. E bate aquela descrença na vida, a descrença em tudo, como se fosse tudo vão.
O sol se põe, e o vento em teu cabelo é a coisa mais linda, Deus!, como gosto de olhar você enquanto bate o vento. E teus olhos sempre tristes e melancólicos que arrastam pra dentro como quem diz "de que me adianta?", hipnotizam. E eu com meus olhos tentadores de otimismo, busco em vão transmitir algo aos seus.
Por que a vida sempre nos parece injusta, e eu pouco sei do que fazer dela, mas tocando ali, à tardinha, sempre parece que fica tudo maior. E observar as pessoas, com suas vidas, suas coisinhas reunidas, cada uma em seu grupinho, distante, como se não fôssemos todos a mesma coisa na massa disforme do universo, isso meio que angustia... Por que todo dia nos encontramos, todo dia nos desencontramos, e isso não é para ser o natural da história, e agora sinto que neste exato instante eu só quero estar onde encontrei. Exatamente aqui.
Sinto também que você parece ter algum peso difícil de carregar. E eu queria, ai como eu queria, conseguir te ajudar a carregar este peso. Nem precisava ser meio a meio não, um terço talvez... Ou um quarto, que seria mais sugestivo, mas eu queria dividir. Queria ajudar. Estar presente de uma forma indecifrável, indefinível, constante. Não como uma dor de dente latejante, mas como uma esperança, um sopro no coração, que a gente sabe que está ali. Que anima. Não quero, não, de forma alguma, te deixar ir e levar tudo isso assim só, como se não me importasse. Por que eu me importo. Me importo como o principezinho se importava em proteger sua rosa. Por que era única. Me importo como um ativista do Greenpeace, que luta pelo planeta Terra, embora pareça um idiota. Por que o Planeta Terra é único. E você também é.
Bom seria se as tristezas se pusessem com o sol...

...: :...


Eu queria ter um amigo
Bem aqui, de ligar no fim da tarde
E sorrir. Não um amor, um
Amigo. De ligar de madrugada
E silenciosamente chorar. Eu queria
pra entender o tudo e o nada, e o
princípio, meio e fim. Que gostasse de
bichinhos. Que ficasse pertinho
de mim...

.:(re)Pensando:.



É de carne e osso o ser humano
É de dor e sonhos o ser amado
Quando ficar sem sentido o mundo estranho
Reflete em seu olhar todo o estrago
A falência interior sem algum controle
E o desespero visível pelo comando
A falta do carinho que me trouxe
E a tristeza de não mais ter aquele encanto
E a forma de ficar é ir embora
E sangue e vinho se misturam nesse altar
Se meu corpo, independente, me abandona
Minha alma, já exausta, vai te olhar...

Lua Aaliyah

.:Incompreensível:.

A – “De todas as dores que sentia, de tudo o que lhe acontecia, nenhuma dor era mais insuportável que a de vê-lo partir e não poder fazer nada, não poder voltar atrás. Era isso e pronto, havia deixado passar, palavras a menos, e quando tudo lhe escorria feito areia da praia entre os dedos, restava aquela dor de não saber que quanto mais se aperta a mão, mais a areia escorre...”



A – Não queria com isso faze-lo sentir-se mal. Doía, e ele jamais saberia o quanto no breve espaço entre a última ligação e a próxima chamada.

B – Por que não me contas?

A - É uma insegurança tola, medo de perder o resto que me sobra, a parte que eu não tinha. E não tenho. Pior do que perder é não poder fazer nada e assistir, impotente, a partida dele, ao longo da última curva, depois da calmaria da linha reta. Em busca do conhecido, deixando esse corpo misterioso e velho para trás...

B – Muitas vezes a gente pensa que sabe bem se vai ser doce, se vai doer, o que vai ganhar, o que vai perder. Eu só quero que seja em paz, doce, e que não seja em vão. Nunca será em vão, não vale mais desgastar-se por coisas poucas e bobagens irritantes.

A – E por que seria o oposto?

B – Quando a lua se esconde e mostra sua face escura... É em vão saber que todo seu esforço não adiantou de nada, e as coisas continuam confusas. E seu porto em braços amistosos te faz esquecer da obviedade das coisas, e tudo o que é simples e bonito fica escuro. O mostro dos olhos verdes...

A- ....

B – Posso dizer que me é calmo...

A – Posso dizer que me dói essa impotência, mais que a minha cabeça explodindo de tanto pensar na ida, na falsa vinda... E isto tudo confuso, que não há quem entenda, nem eu talvez. Mas é assim que me passa pela cabeça...

B – Nem todos precisam entender, apenas sentir. E se não sentem, que continuem amargando na ignorância. Para alguns se o remédio não for amargo, e se não arder, não parece fazer efeito...



B – “Que seja feliz. Depois de tudo e por todos, que seja feliz. Que pelo bem estar, pela tranqüilidade que dás, que seja feliz. Pois um final triste encerra não só todas as possibilidades do sorriso, mas também faz a gente morrer um pouco por não ter expectativa. Que seja doce. Depois de tanta apreensão, que seja doce. A intranqüilidade não nos rouba só o sono, mas nos tira o viço da juventude, amarga... E nada há de pior do que remédio amargo. Que seja calmo...”

.:Dias de Glória, canções de amor - É doce...:.


Era tarde, estava perdida...

Não sei especificar um quê qualquer de lago profundo e abismo final nessa amplidão negra de teus olhos que me olham assim, tão intensos... Que tento, tento ficar na borda, apenas sentada à margem, molhando minhas mãos nessas negras águas, que ondulam e fazem brotar um sorriso no meu rosto, que logo vejo refletido no teu rosto, lindo, hipnotizante...

E não há como resistir...

É como encontrar águas calmas, tranqüilas, mas que nos levam ao fundo e prendem; a gente perde o pé no piso, na realidade, e morremos afogados ao mergulharmos. Morri ao mergulhar no teu lago...
E sempre quando me olhas assim de perto, com teu abismo negro e teu silente sorriso apoiado em tuas mãos sob o teu queixo, eu consigo ver meu corpo, que ali jaz solenemente em paz, repousando ao fundo das tuas retinas, sereno... Sorridente...

Sim, é doce morrer no lago...

.:Outubro, 2006 - Last Sunset:.



E faz agora dois meses.
Poeira baixada, tarde acabada, cabeça no lugar agora, fica mais fácil de raciocinar.
Estranho essas nuvens cinza essa época do ano, quase não chove em Outubro... Vai ver sou apenas eu refletindo tristeza onde não existe, vai ver...

Talvez agora entenda por que tudo ter acontecido como aconteceu. Não que eu vá ser presunçosa ao ponto de afirmar que tudo o que é bom demais dá medo, não... mas se olhar bem de perto, à proporção que ia ficando intenso, assustava mesmo...

Você já se sentou em frente ao mar pra ver o sol se pôr e viu o mar indo e vindo, a pipa no céu indo e vindo, as crianças indo e vindo ao seu redor, o barquinho que vai... E que depois vem... Mas dessa vez você não veio... E pela primeira vez não fui eu quem foi embora, mas eu também não queria que olhasses para trás.

As linhas mais bonitas dessa poesia não chegaram, nunca chegariam a ser escritas.
E um quê de roupa velha e cheiro de mofo nos livros que sequer chegaram a ser lidos que inunda tudo, e me consola que o melhor mesmo era ter mudado cada pausa e vírgula e saia, camisa e vestido antes que ficasse grande demais, sufocante demais... Sempre aquele irritante cheiro velho de coisas recém compradas...

Difícil compreender se você nunca viveu.

E já não adianta se questionar sobre este ou aquele defeito, se o detalhe do que foi dito não está em harmonia com a latejante sensação de cada palavra ali escrita, não é algo racional, e de repente nunca mais eu te ouvi...


Vai ver consciência é só algo que colocam na nossa cabeça mesmo...

...::: Paixão Segundo E.U.:::...

Não me estranhe desde logo com esta missiva. Nem estranhe meu jeito de escrever/me expressar. Aliás, certamente você estranhará, já que eu mesmo não tenho compreendido e tenho achado tudo isto muito, muito estranho.
Não é uma crise existencial, não... Eu sei bem onde estou, sei para onde vou, sei qual é esse caminho que eu trilho. Apenas... Eu e minha eterna mania de pensar demais nas coisas... Que chato...
Aí está a questão, eu sei por onde a vida está me levando, entende? Não, não entende... Eu suporia isso de ti, o não-entendimento.
Depois de um mês fora, entrar no meu quarto foi um episódio estranho. Livros na estante, computador na mesinha, papéis próximos das canetas, tudo no seu lugar. Por quê? Onde foi que eu escolhi tudo isso? Mal passaram cinco minutos, não aguentava aquilo ali. Peguei o carro, disse que ia ver um filme ou coisa parecida e saí. Mas então dei-me conta de que eu poderia ir onde bem quisesse. Fazer o que bem entendesse. E eu simplesmente não sabia onde ir! Parece que todos me olham, comentam sobre eu parecer perdida no meio da cidade grande... Passamos tanto tempo presos a horas e regras e explicações que quando estamos conosco mesmos, podendo fazer o que bem entendermos, assusta... Preciso(amos) de amarras e correntes para sentir(mos) que estou(amos) no chão, no mundo!
Sentindo o tempo passar entre meus dedos feito a água da praia, caí de pára-quedas no imaginário. O mundo dos porquês é muito vasto! E se disse o pensador algum dia que para cada pergunta capaz de ser elaborada é por que existe em algum lugar uma resposta a ser dada, onde posso encontrar as minhas? Será que o autor estava certo em dizer o a solução era simples pois o problema era o fato de não haver problema algum?
Calma...calma... Não quero transformar isto num questionário nem num texto lispectoriano... Não sou G.H. e nem tenho ambições em sê-lo.
Apenas... Que mundo é este no qual me encontro? Não lembro de tê-lo escolhido para mim... Não quero continuar nele, mas parece faltar tão pouco para sair... São tantos os caminhos a seguir que me é impossivel escolher só um. Parece sempre que é cedo demais para tomar uma decisão, fazer uma escolha. Nunca fui boa em escolhas... Dentre os cem caminhos escolhia um, mas sempre me questionava sobre os outos 99... E de alguma forma tentava dar alguns passinhos (acho tão engraçado esse diminutivo de "passos"!) pelos outros. E, no fim, nada dava certo... Ou tudo dava certo, o que era mais assustador, e eu sempre abandonava tudo por não saber como seguir em frente. Já aconteceu isso com você?
A humanidade é esquisita. Cobram o tempo todo uma posição de você, o que você quer, o que você sente, mas não estão nem aí para essas coisas, cada qual segue sua estrada, se você não sabe onde vai dar, dane-se...
Tenho sentido sua falta.
Minha estrada, sei onde vai levar, a questão é: eu quero mesmo seguir? Eu sei bem quem sou, sei bem do que gosto - e do que não gosto, mas não consigo me definir, entende? Acho que vai pela inconstância das coisas em relação ao futuro. É como se tudo não passasse de um projeto irrealizável... Viver é tentar escrever um livro, mas não tem delete, né? E é sempre muito difícil conseguir patrocínio para nossos sonhos, crenças ou até mesmo obrigações...
Tenho estado em estado de confusão... Ficado em formas desconexas...
Acho que o mundo está passando e a vida está girando... Ou seria o contrário?
Vale então admitir que eu já não sei mais de nada e somente entendo o que eu nada entendo...
Apenas.. Sinto sua falta. Talvez seja essa uma certeza, apesar de eu duvidar que estejas mesmo assim tão longe...
Abraços... Esses sim verdadeiros, embora escritos... Será que essa palavra - abraços - receberás com a mesma carga de sentido com a qual lhe escrevo? Cuidado ao ler minhas palavras então... Quero lhe passar o que sinto, mas agora tenho receio da tua angústia...
É tarde... Poderia não te mandar esta carta, claro, mas então terei gasto as palavras em vão, e esse crime não cometerei. As palavras têm um limite, sabia? Quando usadas em demasia ficam gastas e perdem o valor, então imagine quantas cartas escritas e não mandadas existem a desgastar nosso já tão pobre vocabulário?
Acho que me estendi demais nas desorientações... Queria que você as pudesse ouvir pessoalmente... E você? Diga-me também... Quais suas aflições???


"Não é bem uma questão de agir certo ou errado. É poder te olhar e ver que você está bem, que está dormindo bem, que essa loucura toda não está te afetando tanto.
E no meio da mais linda música tem o barulho das buzinas e motores lá fora, enchendo nosso céu azul de cinza, mas lembrando dessa triste realidade que acho que não nos cabe manobrar.
Quero te ver bem. Fica bem pra que eu me iluda em ficar bem também. Mente um pouquinho pra mim. Assim me faz crer que a vida é um pouquinho menos miserável do que ela de fato é.
Estou doente, sinto-me doente, caindo, enfraquecendo. E é até feio pedir tua energia assim, mas eu sempre fui egoísta, sabes. Mal de quem se criou sozinho.
Finge que está bem. Nunca quis, nunca quero te abandonar. É só um jeito meio torto de estar presente, que um dia eu descubro como fazer direito. Pena que o normal seja as pessoas irem e virem umas das vidas das outras. Não quero ir da tua, mas tenho medo de ter ficado grande demais pro meu cantinho aquecido nela. Não reclamo do vento, nem da chuva. Ela caindo sou eu lavando minha alma de fora pra dentro.
Agora que é hora não consigo dizer “tchau”. Eu nunca soube como dizer. Até nessas desimportâncias não levo muito jeito. Preciso que me ensines. Preciso que me ensines a dizer “tchau”, a ver a luz no fim do túnel e não queimar as retinas, a ser grande o suficiente para poder acabar antes da tragédia, respirar fundo, olhar o caminho e tudo bem, caminhar em frente e continuar andando..."

.:Já parou pra rodar?:.

"Talvez eu não devesse ter... Enfim... Não, não quero ir pra casa. Não tão rápido. Não vou dobrar ali, já que vim pela 13, não pego a rotatória, sigo em frente e pego a rua da casa da mana. Acho que não sei se estou bem... Vontade de pensar. Vou mesmo passar direto e volto pela Barão de Studart. Ainda é cedo...
Queria entender por que ela me odeia, afinal, o que eu fiz? São amigos?
Se é ciúme, de que seria? Não estou tirando nada dela... Era pra ter dobrado aqui... HiperBompreço... Motorcycle fechado na noite de terça feira... Ah, a pastelaria fechou! Só por que eu ia chamar o Du pra vir comigo na quinta! Já sei, sigo em frente, faço um retorno e volto pela 13 mesmo... Sentido oposto... Espero que ele não esteja mais na parada de ônibus...
Chegar em casa, fazer o trabalho do Patrício, e ver se o encontro online... Dizer que fiquei mal, que foi sem querer... Que quando ele estiver com ela, vou ficar na minha. Afinal, disputar a atenção dele nesta altura da vida e do campeonato é algo q não faço nem a pau... droga.. Rua errada.. também né...1ª à direita, 1ª à direita numa avenida só poderia voltar pra onde estava, nunca na direção contrária! Dããããã pra mim!
Deixa... Eu pego a Desembargador... A luz da reserva agora que acendeu...
Se eu colocar no msn "queimando gasolina pra não queimar meus neurônios" ele vai sacar.. E vai ficar culpado... Melhor não... Mas na verdade é isso... ah droga.. só entra nessa ruazinha...
Putz, onde é que eu tô? Caramba, parece uma favela... Escuro pacas... Seja o que for, não pára, acelera, acelera, acelera... Ufa... Ali no sinal deve ser a Desembargador... "melhor se perder na cidade do que dentro de si mesma" Poderia colocar isso... Mas ele se noiaria também.
A cidade é bem diferente à noite... Nem sei como vim parar aqui... Simplesmente saí dirigindo do Cantinho, e acabei aqui, dirigindo, pensando demais, pensando que estou pensando demais, queimando a reserva do tanque de combustível.
Tanta coisa... Rodando... Caixa Econômica... Catatau... Assembléia... Pão de Açúcar... Pe. Valdevino... Ali na placa até ensina como chegar... 1ª direita, 1ª de novo... Outra ruazinha estranha. Acho que é pra poder saber que tenho essa liberdade de fazer isso. Se ele soubesse me matava... Sozinha a essa hora da noite, num carro sem fumê por essas ruas desertas!
E pior que vai acabar sabendo... É o tipo da coisa que não guardo pra mim. Chegar em casa vou acabar fazendo um texto e pondo no blog...
Eles tiraram mesmo os buracos daqui... Pelo menos até aqui, no Super família... Pra quê a buzina?! Mas ali não tinha nenhum sinal vermelho! Dirijo há anos por aqui, e conheço todos... Ou será que tinha? Ops, acho que talvez poderia ter... É o segundo sinal vermelho que avanço hoje, ando muito pensativa... bom tomar cuidado...
Bom. Olha... Espero que ela não feche minha garagem... Muito bem, não fechou!... Não tem muitas baratas, vou descalça mesmo. E se ela reparar por que estou descalça? Ah, cansada, estou nesse salto desde as 7 da manhã, são mais de 10 da noite, quero nem saber...
Lembrar de levar o fichário lá pra cima... Se eu o encontrar peço desculpas de novo... Apesar de nem saber se de fato estou errada..."

..:Be Alone:..



E no décimo dia, Deus olhou em volta. Tudo feito, tudo criado, e parecia tudo incompleto, sem sentido. E então, Deus criou os solitários como nós dois.
E junto com os solitários, criou-se o sentido das estrelas e do luar no céu, as palavras começaram a rimar musicalmente, e as harmonias começaram a fazer efeito. As brancas nuvens passavam e eram notadas, os sonhos começaram a ser sonhados e ansiados, a lágrima começou a ter um significado a mais. Ah, com os solitários as palavras também passaram a ter um sentido a mais, e então tudo ficou mais difícil de se expressar e maior de se sentir...
Solitários... Assim como a gente...

...::Sempre Pouco Tempo::...




Queria apenas pensar na vida, entrou no carro e deu a partida. Precisava apenas de uma saída, a cem por hora na avenida.

Era curto o caminho até em casa... Eram poucos os sinais vermelhas na pista... Era escasso o tempo da canção...

Entre curvas e pensamentos, tantas coisas a serem decididas. Não havia tempo para a vida correndo pela janela do seu carro preto. Nem o casal saindo da maternidade com o filho recém nascido. Era passado no retrovisor agora... Seria aquele um conhecido seu? Agora estava para trás, distante... À frente apenas algo conhecidamente desconhecido.
Sem sinais, sem paradas, era tudo muito rápido, tudo girando a 150. Queria diminuir para ter o sabor de ver tudo passar mais lento, mas não conseguia desligar aos poucos.
Depois de rodar, e rodar e passar embaixo da platarforma, uma marcha a menos... Duas marchas a menos... Três marchas a menos, a luz vermelha.
Pensava na vida, na falta desta, dinheiro, seu amor, sua dívida,sua dúvida, sua música... Distraiu-se olhando mãe e filho atravessando... Bonita cena, no colo, ainda pequeno, indefeso, um dia teria mais de um metro... Isso era sempre algo bonito... Mãe e filho... Mãe e filho... Mãe e filha... Filha da mãe!... Sinal aberto, buzina na traseira, chama-a de volta.
Marchas a mais, vento a mais, uma lágrima a mais, uma vida a mais, tempo a menos.
As pessoas sempre absorvidas em suas vidas, dentro de seus veículos em congestionamentos, reclamando; a via livre para que acelerasse. Não compreendia o prazer da pressa que tinha quando não podia correr, e da vontade de demorar a chegar, ou simplesmente de nem ir, se a avenida fosse toda sua...
Última curva, sobe, e pára.
Não sabia se os últimos nove minutos haviam sido reais, sonhados, irreais ou simplesmente anestesiados pela fantasia na qual submergiam seus confusos pensamentos. Em todo caso, se em algum instante tinha saído, agora estava de volta. Abrindo portões para o desconhecidamente conhecido.

Era grande o sentido de tudo e sentia o pesado vazio do mundo. Parecia um sem fim o caminho ao fundo e restava sempre a intensa vontade do absurdo...

Lua Aaliyah

Diálogo



— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura.
Tenho medo de cair para dentro de você.
Há nos seus olhos castanhos certos desenhos
que me lembram montanhas, cordilheiras vistas
do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus
olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão
e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra.
Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que
pude, sem sequer perceber que estava plantada num
desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida.

Rita Apoena

.:Dias de Glória, Canções de Amor - IV:.



E assim seria se de tão próximo eu não conseguisse te encontrar... O sangue não me correria quente pelas veias. O sol brilhando num céu chuvoso não traria alívio e nem conforto.
Acordar não seria mais preguiçoso e dormir não seria mais tão prazeiroso. A mesa posta do café lembraria um quê melancólico de solidão. A correria do dia a dia, o vício no trabalho, nada disso adiantaria para fazer o relógio correr sem te encontrar ao fim de tudo.
E a doce voz não mais ouvida, e as mãos quentes não sentidas e nem o arrepio da respiração úmida na nuca, tudo o que completaria não mais faria sentido.
Se não te encontrasse de tão próximo, o sonho não me povoaria doce a cabeça e as nuvens que a sustentam se desmanchariam, como algodão doce que derrete entre os dedos tolos de uma criança levada...

.:Lágrimas de Diamantes:.

Por que nunca é assim, tão simples: eu gosto de você, você de mim, pronto, estamos bem. Por que sempre tem uma dor, uma escolha, uma forma de machucar e fazer chorar. Por que no fim das contas nunca dá certo, nem abandonar o antigo e muito menos arriscar naquilo que é novo.

Por que tudo machuca demais, e não são escolhas de quem vai ao shopping e não sabe se usa o sapato preto ou o vermelho, e quem escolhe já está com os pés machucados pelos outros sapatos, mas ainda assim sabe que se machucará seja o que escolher...

Por que todas as unhas já foram roídas, o estômago já não funciona, o sono não existe, a febre não baixa e os cabelos insistem em cair, e nunca se sentiu tão perdida e dormente...

Por que não há conselhos, nem palavras, nem nada que ninguém diga que vai amenizar a coisa toda, ou vai fazer com que a decisão seja tomada, e as borboletas saiam do estômago...

Por que o mundo não pára pra que nos reconstruamos, e nem para que a gente possa pensar com clareza, tudo acontece caleidoscopicamente, e as únicas coisas que parecem seguir o curso normal de sempre são as lágrimas que corriam de seus olhos...

Por que não entendia o motivo disto tudo estar acontecendo, mal fazia um mês em que tudo estava perfeito, e agora era tudo vazio, dúvidas e solidão...

Por que não queria falar de si, e disfarçava falando de outro, mas todos sabiam que era pura mentira, e que na verdade não sabia disfarçar coisa alguma...

Por que quase nada fazia sentido em sua mente, e nem sabia o porque de tudo isto, mas apenas precisava descontar em algo ou alguém, e bem, por que não jogar pra cima de quem não tem nada a ver?

Por que estava tudo confuso, e acabado, e eram tantas coisas que não sabia o que fazer e nem como terminar...

.::Dias de Glória, canções de amor - parte III::..



Não sei dizer bem o que acontece...
Se é o jeito dela sorrir sentada abraçada aos joelhos, perto de mim, enquanto invento bobagens e proezas só para tê-la olhando para mim e sorrindo... Ou se é a forma como ela respira quando lhe falo deliciosas e sacanas verdades ao ouvido, lhe arrepiando os pêlos da nuca...
Talvez seja a forma como fico mudo ao vê-la olhando nos meus olhos, sem dizer palavra, mas falando tudo o que sente naquele momento, transparecendo com uma mordida de lábios o arrepio que lhe percorre internamente...
Sei que é quase raro ver alguém como eu falar assim, mas quando a sinto minha, quando a amo por completo e a tenho entregue em minhas mãos, lábios, corpo... Não sei, não sei; não saberia dizer o que se passa, o que acontece, a intensidade do que sinto, misto de desejo e agonia de fazer aquela linda criatura feliz, sempre minha, sempre linda... Sempre minha doce e linda moça...
E quando espera, espera, e logo ao desistir, ao escolher outro caminho, tudo parece acontecer....

(...por que você sempre fala de existencialismo e eu insisto nas canções de amor...)

..::Dias de glória, canções de amor - Parte II::..


E essa angústia de esperar, e esperar e achar que a qualquer momento vais entrar por aquela porta; flores roubadas na mão, camiseta, calça jeans, sem dizer absolutamente nada. Essa sensação de que a cama não está vazia, apenas foste até a cozinha, e já regressas.
Esse desejo de que a qualquer momento me convides para um almoço, um cinema, um passeio. Essa angústia de esperar...
E repetir mil vezes "não é por aí, não é por aí, não espere nada", quando na verdade a esperança já fez moradia em cada parcela dos dias.
Não é algo que seja simples.
Mas talvez se fosse, eu não sei se esperaria...

..::Dias de glória, canções de amor - Parte I::...



Por que às vezes a tua imagem me invade a mente, e fica difícil disfarçar as coisas todas que acontecem em mim. Pois, ao olhar pela janela e ver a Lua, imagino uma infinidade de coisas a te falar ao pé do ouvido, embaixo dessa chuva que escorre pelo meu rosto, logo após te beijar. E mesmo quando saio com meus fones de ouvido, berrando Pearl Jam dentro de mim, sinto minha mente longe de toda essa realidade circundante, pois estou junto a ti. E se ao acordar não te vejo, não é por outra coisa a não ser algo muito além do meu desejo de estar perto de ti, ao teu lado...
E ainda quando sento na praia para ver o sol se pôr, é na sua imagem que fixo o olhar perdido. E quando dirigindo, vejo teu mundo passar pela minha janela. O nosso mundo compartilhado, as nossas certezas delineadas pelo sentir...


P.S: Por que há tempos queria fazer uma série de textos explosivos sobre o sentir. Então lendo o blog da Lo, decidi que era hora de criar coragem uma vez que o momento é bem propício... Então... Espero que gostem dessa série de ainda não sei quantos textos...

...Laços...



- O nome disso poderia ser algo como "falta de preparo para lidar com uma situação específica", mas eu prefiro chamar de "perda de tempo". Afinal, se você vai ter de lidar com uma situação específica, melhor encarar logo o fato. Se não, um dia lá na frente você pode se tocar "que bobagem! Perdi anos da minha vida tentando fugir de algo que era inescapável em vez de viver aquilo; visto que a vida nada mais é do que viver cada coisa que acontece",

...

- Você venceu... O que você tem a dizer?
- Que é bobagem chorar por laços que parecem desfeitos, mas que continuam firmes. Alguns laços são teimosos. às vezes a gente pensa "Puf, lá se foi ele", mas ele vai estar sempre ali. Que nem alguns amores...

...

- Mãe...Eu queria uma lembrança do meu pai. Pra guardar.
- Eu vou te dar a melhor lembrança de todas...
...até onde vai a noção do que é real, plausível e tangível?...
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