.:O Inferno São Os Outros:.


Fechava os olhos e continuava a correr...
Quando achava que o coração explodiria e a garganta se abriria para que os pulmões pudessem se expandir por ela, parava um pouco e andava apenas muito depressa naquela chuva fina que caía. nada de importante, apenas o suficiente para irritar pelas finas gotas que caíam machucando-lhe o rosto.
Apertava o passo, sem saber se iria chegar onde queria, ou onde queria chegar talvez fosse o que não sabia, mas trazia consigo os fones de ouvido e a surrada bolsa carteiro a tiracolo.
O barulho das ruas nem de longe diminuíam a sensação dos gritos em sua cabeça. Pedia por favor para pararem, mas aqueles gritos, e choros e apelos infantis não lhe deixavam pensar ou ouvir mais nada. Era mais que perseguição, estava em todo lugar.
Os fones agora eram inúteis.
Então acelerava, e acelerava, e a chuva antes fina parecia engrossar. Tal qual sua angústia diante daquilo tudo. E se chegasse em casa, o que encontraria? O que diria? Entraria sem dizer nada como o costume e enfrentaria aqueles pequenos olhares inquisidores a lhe questionar por onde andava?
E se não fosse para casa, o que lhe esperaria? Em que quarto se esconderia?
De olhos fechados continuava a correr. Poderiam pensar que era de ladrão, que perdera o horário, o ônibus, ou apenas tinha pura ansiedade, e corria. Agora molhava-se mais e mais naquela chuva, no calçadão da praia, a bolsa pesava embebida em toda aquela água, mas agora seu rosto era machucado pelo quente das lágrimas que desciam grossas por suas faces. Não saberia explicar o motivo delas, apenas sentia aquele aperto agoniante nos olhos, como se lavasse a alma de dentro pra fora enquanto a chuva lavava seu corpo de fora pra dentro. Era maior do que si. Mergulhava mais e mais naquela espécie de hipnose física: barulho de água nos ouvidos, coração acelerado da corrida, o choro das crianças em sua cabeça, as buzinas dos carros em seus ouvidos...
Não havia visto a reforma da calçada e menos ainda o buraco cheio de pequeninas pedras em seu caminho, inevitavelmente foi ao chão.
Agora sentia que parecia também uma daquelas crianças, e quis chorar mais ainda, olhando em volta todos lhe olharem. Apertou ainda mais os olhos, contendo tudo o que podia em si, concentrando-se para querer acordar se aquilo fosse um pesadelo.
Surpreendentemente a chuva cessou de vez, sendo substituída por um ar extremamente frio, as buzinas dissiparam-se, as pessoas não haviam mais; abriu os olhos já de volta à realidade branca e de paredes acolchoadas com cheiro de calmantes daquele quarto de hospital...

4 Seus Mistérios:

Anônimo disse...

Estava lendo Sandman recentemene...
Dos sete pérpetuos eu não sei qual tu cita nesse texto...
Desepero? Delírio?
uma alternância entre ambos?
Tirando esse diálogo(?) que eu vi...
eu achei o texto sufocante...
como aqueles pesadelos que a gente têm e acorda com aquela sensação:
"Foi tão real..."

Anônimo disse...

Tlavez ambos...
Talvez nenhum...
Ou talvez só quisesse retratar a loucura e desespero mesmo, como vc sentiu...

Que achou da experiência....

Anônimo disse...

Acho que já tive piores...
Principalmente quando quis colocar razão explicando tudo...
Agora que aceito o poder dos devaneios/delírios consigo me sentir mais em paz...

Lee disse...

Céus! Primeiro o contraste da calma da imagem com a agonia de correr, correr, correr! Da a agonia de se estar em um mesmo lugar sem pode escapar a não ser através de um desvairo e neste desvairo ter a angustia como um despertar, como uma liberdade, como um existir contido em paredes alcochoadas e inevitavelmente camisas de mangas superlargas...
Minha irmã, minha amada irmã...

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