A milésima terceira noite...

Na manhã do dia 26 de maio, sábado, ele acordou depois de uma noite de muita festa, farra e bebedeira. Ainda zonzo por causa dos excessos, olhou de lado na cama e viu que a mulher já havia ido embora, mas tinha deixado o café pronto, a mesa posta, o quarto mais ou menos arrumado, tudo limpinho e tudo organizado. Ainda sentia o perfume dela nos lençóis.
Levantou, foi ao banheiro, ainda nu circulou pelo cômodo, viu os papéis em cima da mesinha, depois tomou um banho, com a toalha enrolada na cintura pegou uma xicara de café que foi tomada enquanto ele lia o jornal, vestiu-se como de costume, deixou tudo em perfeito estado, ligou para a esposa e avisou que a reunião tinha sido horrível e que ainda aquela noite estaria de volta em casa.

Lua Aaliyah
A aula tinha terminado. Do lado de fora ela esperava. parecia algo comum como era todo dia. Pensava na vida, no que acontecia, no que vivia - e no que não viveu, em coisas tolas e letras de música.
Como qualquer outro um aparente casal se aproxima e senta em um banco próximo, atrás dela. Conversam. A garota inaudivelmente baixo, mas ele é perfeitamente compreendido.
Ele fala sobre dar apoio, sobre estar ao lado, presente. Assume que gosta da menina. A garota parece muda. Ele continua a falar sobre sentimentos e desilusões.
Ela tenta não ouvir a conversa. Pega o caderno, começa a escrever coisas aleatórias, mas não consegue se desviar. Ele fala para a garota coisas que ela gostaria de ouvir. É engraçado. Ele fala que gosta da garota, a garota tem namorado, mas chora. Será dúvida? Ou medo de assumir que está dividida? Ele diz ser adepto das paixões destruidoras. Ela conhecia uma história assim. A garota chorava...
Ele fala em filmes que retratam a situação. Ela pensa:estou só. A garota não sabe o que dizer. A vida arma estranhas armadilhas. ele fala sobre intensidade.
A garota então começa a falar.Mas ela não consegue ouvir. Só escuta a ele. Eele fala agora sobre infantilidade, afirma ter esperança pois o que ele sente não é banal. Eele se preocupa com a garota, quer saber se ela está bem com toda aquela conversa. Elas pensa se havia quem se preocupasse com ela...
O assunto então toca no esquecimento. Ela queria sumir. E então ele fala de culpa. Será que aqeueles dois algum dia compreenderão que não há culpados? E que por mais que ele ache que traiu a confiança da garota em que ela mais precisava, isso não era verdade?Ele não podia trair a si mesmo. eele chorava. falava que ia sumir. Ela sabia que isso não adiantava.
A garota não entendia. A vida parecia um filme... Mas agora ela não era a atriz principal.
E foi de pensamento em memória se desviando da conversa próxima. Tantas marcas ainda não cicatrizadas em seu coração. Era ela agora quem fazia força para não chorar também. O casal foi embora. Novamente só ela ficara. Só, no seu esquecimento, nas suas más lembranças que ela mente a si ter esquecido, sozinha na ânsia de ser feliz em vez de promover a felicidade dos outros. Sozinha como sempre estava. Sozinha como sempre tinha sido. Sozinha como sempre era...

***

Na noite quente um vento frio cortou-lhe o rosto. A meia lua encobriu-se. Mau presságio...

Lua Aaliyah

= SINESTESIA =

Não dê ouvidos
Às cores da cidade
Não veja os ruídos
Dos cheiros
Sinta-se inteiro
Quando estiver dividido

Nem sinta na pele
O odor do sorriso
Aguce os sentidos
Da vida
Só coma a saída
Se o principal for servido

E no tato das retinas
Respire o sabor
Retenha o aroma
Do não
Na ponta da línga, então
É o corpo da fôrma

Lua Aaliyah

Prisões, manicômios e hospitais...


Estranho esse négocio de sala de espera de hospital... Nos deparamos com o que talvez sejamos amanhã...
Já parou para pensar no envelhecer?
Eis que então está ali na sua frente, totalmente dependente, sem movimentar-se direito. Enquanto reclamamos de uma simples torção no dedão do pé, nem prestamos atenção em braços imobilizados por simples batidas no balcão da cozinha, afinal, os ossos depois de uma certa idade não são mais os mesmos....
VOCÊ TEM MEDO DE ENVELHECER?
Eu tenho!
Não pela beleza física, pois esta é fútil e se de nada me serve no presente a não ser para atrair falsos admiradores que querem de mim apenas meu corpo e não me valorizam pelo que eu sou de verdade, tipicamente o caso de "uma noite e nada mais", quando envelhecer não há de ter utilidade alguma mesmo...
Tenho medo por essa relação de dependência, de sensação de estorvamento, de atrapalhação. Não gosto de me ajoelhar sequer para amarrar cadarços, como seria ter de pedir ajuda para coisas simples como alimentar?
Não sei se quero pensar nisso agora. Ver todos aqueles idosos na sala de esperar da emergência do hospital me deixou deprimida. É estranho.... A gente nunca pára para pensar nessas coisas, acha que vai ficar assim jovem para sempre... Lá se foram 21 anos, dentro em breve notarei que mais 21 se passaram, e o que virá depois? Será que estou fazendo o que realmente deve ser feito? Não quero entrar no campo das discussões a la "carpe diem" agora, queria tentar me ater ao fato e ao medo de envelhecer, a não querer ser dependente, a não ver minhas forças indo embora dia após dia, atrapalhando, esperando a morte chegar.
Tenho 21 anos. Em pouco menos de dois meses completo 22. Não consigo me imaginar com 30 anos. Não sei o porquê, mas não consigo fazer tal projeção. Minha imaginação chega só até os 25. você já se imaginou com 30 anos? (sei que muitos amigos tem na faixa dos 24 a 27 anos)
Não quero ser dependente. Não quero envelhecer e ter que ser criança novamente. Mas não dá para mudar isso. Quando se pensa sobre, dá uma sensação de impotência diante da vida... Então me dou conta de que não nascemos, apenas começamos a morrer. Mas aí já enveredo por outras filosofias.
Talvez a velhice (não no sentido pejorativo, por favor, não me entendam mal!) tenha mesmo dessas coisas. Dói refletir sobre. Mas a "imortalidade" deve ser ainda mais dolorida. Buscar o quê então? A fonte da juventude? Pfffffff............ Bobagem...
O que sobra então? Torcer para que os filhos não nos abandonem em asilos fétidos e solitários? E se eu não tiver filhos? Será que eu quero mesmo chegar aos 60 anos de idade? Será que eu quero mesmo chegar longe assim a algum lugar?
Você já pensou sobre isso? O que você decidiu?
É estranho...É estranho... É vazio...
Preciso descobrir
um meio de te achar
e a gente se encontrar
na gente.

Eu quero não sair
até se completar
o amor que sente.

Eu quero produzir
no último momento
o verso que completa
e que se fez.

E o corpo não faz nada

E mais que tudo
uma outra vez.

Só peço que me deixes
acordado
ao te ver
adormecer...

Lua Aaliyah

...não quero medir a altura do tombo...

Ao som do Baleiro ela pensava e ouvia sua vida. Tudo ali no seu passado, na sua frente, bem ao seu lado. Era como se tudo se encadeasse num aparente circo de horrores que todas aquelas lembranças lhe causavam.

Pensou no que tinha sido. Eu não quero ver você cuspindo ódio... E como sarar a dor? Era tudo tão distante e as marcas tão recentes. Mas ninguém a entendia. Isso já virara costume. Aliás, ela nem sabia mais se havia ali algo para se entender...

Pensou no que era.

Um barco sem porto, sem rumo, sem vela. Não tinha onde ficar, não sabia para onde ir, nem tinha como partir. Simples assim.

Pensou no que poderia ter sido, em qual era a parte da outra estrada no seu caminho, mas talvez essas estradas não se encontrassem. Ou tivessem até se cruzado no sinal vermelho. Sabe lá...

Estava tudo bem perto, tudo ali, na sua frente, feito retroprojetor passando nas nuvens. Quanta coisa ficou perdida em letras e canções, palvras e silêncios...

Quis pensar no que poderia ter sido. No que seria. Mas estava tudo muito longe mesmo. O vento no rosto, propaganda da tv, não queria nada daquilo, sabia da queda, sentia o veneno, não tinha mais crença nem em Deus nem no Diabo.

Não queria voltar para casa. Antes o filme das lembranças do que a certeza da realidade. Não sabia o que a deixava mais triste. Restava a alegria fingida e a falsa tranquilidade de quem não sabe quase nada. Afinal, não era preciso saber mais nada. Pelo menos não os outros...
I thought I'd found the boy of my dreams
(Eu pensava que tinha achado o cara dos meus sonhos)
So it seems this is how the story ends:
( Mas então parece que é assim que a história termina:)
He's goin'to turn me down and say
( Ele virará para mim e dirá )
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")

I thought for once
( Eu pensei uma vez)
It couldn't go wrong
(Que eu não poderia estar errada)
Not for long! I can see the way this ends:
( Não agora!Eu posso ver como isto acaba:)
He's goin'to turn me down and say
(Ele virará para mim e dirá)
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")

Never again! Through and with love
( Nunca mais! Junto com o amor)
And through with them!
( E junto com eles!)
They play their game without shame,
( Ele joga o jogo deles sem ter vergonha)
And who's to blame?
( E de quem é a culpa?)

I thought I'd found a guy I could trust
( Eu pensava que eu tinha achado um cara no qual eu podia confiar)
What a bust! Now I see the way this ends:
( Que besteira! Agora eu posso ver como isto acaba:)
He's goin'to turn me down and say
(Ele virará para mim e dirá)
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")


I should have seen the signals and stopped
( Eu devia ter percebido os sinais e parado)
What a flop! now I see the way this ends
( Mas que coisa! Agora eu vejo como isto tudo acaba:)
I'll let his turn me down and say
( Eu vou deixar ele virar pra mim e dizer:)
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")

I thought I'd found the guy of my dreams
(Eu pensava que tinha achado o cara dos meus sonhos)
So it seems this is how the story ends:
( Mas então parece que é assim que a história termina:)
He's goin'to turn me down and say
( Ele virará para mim e dirá )
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")

Não há um luar que vem em vão
Que não deixe algum sinal no coração
Quando vêm aquelas noites de luar
Vêm assim tão deslumbrantes
Que prefiro ver o dia raiar

Não há um luar puro e inocente
Sempre a chama é quente
Sempre queima a gente
Sempre é envolvente
Risco permanente

Entorpece, dá o bote
O seu veneno é muito forte
Não há um luar inofensivo
Que ilumine apenas
Sem outro motivo

É depois de alguma noite de luar
Que a paixão bate mais forte
E nem sempre existe alguém pra se amar

Não há, minha gente, oh não, luar
Só tão cândido, só romântico
Só lunático, só volátil
Sempre é um pouco além
De onde alguém espera ver o bem

Não há mais luar do tipo ingênuo
Que não deixe os seus encantos no sereno
Justamente nessas noites de luar
Quando o espírito fraqueja
Vem a Lua ali tentando enfeitiçar

Não há um luar de confiança
Mesmo na bonança, luz suave e mansa
Abre o foco e avança
Finge que é esperança
Pega quem quer ser feliz
E lança o mal bem na raiz

Não há um luar leal e amável
Que desperte algum desejo mais viável

Lua, Lua, sua história perpetua
Pena, tanta gente lhe cultua
Lua, Lua, que do alto se insinua
Não se meta, fique aí na sua

Luiz Tatit
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