.:Espelho:.
Ele ficava sempre ali sozinho, sentado no canto. Sozinho e isolado. Eu, que já não estava mais sozinha, mas naquele dia sentia dor, fiquei a observá-lo.
Não que ele fosse bonito ou algo do tipo, antes pelo contrário, parecia um respeitoso senhor de idade. Havia nele um qualquer coisa de estranhamente familiar. Não pelo cigarro que fumava, visto que esse, afortunadamente, não é um hábito meu. Talvez o olhar distante por detrás das lentes fosse algo que eu já tivesse presenciado algumas vezes.
Todas as noites ele estava impreterivelmente lá. Nem trazia nas mãos livros ou cadernos. Sequer trazia alguma caneta, anotação ou qualquer indício que o denunciasse como algum aluno da universidade.
Confesso que no começo achei que somente eu o via ali, no canto. As pessoas passavam e o ignoravam, ninguém parecia dar conta dele ali. Supus ser ele minha consciência, fruto da minha imaginação, meu alter ego, algum encosto, espírito zombeteiro, enfim, ou que eu simplesmente visse "coisas". Foi numa noite em que o Paulo me falou "Eu tenho pena desse senhor, sabia? Sempre tão sozinho..." que então eu me certifiquei que não tinha enlouquecido e nem era dotada de qualquer tipo de poderes extra sensoriais.
Mas me dei conta também que era mais ou menos isso que aquele senhor despertava em mim também: um sentimento de algo como pena.
A solidão é sempre algo penoso. Quem a sente, ainda que por escolha, pena por algo irrealizável, ew quem a vê, como eu, sente pena por quase conseguir tocar essa espécie de aura que as pessoas solitárias têm.
Já notou? Pessoas (verdadeiramente) solitárias têm algum quê de mistério indefinível. Uma dolorida sensualidade que atrai o olhar, e prende. Uma vontade de se aproximar e uma intocável necessidade de se afastar exatamente para manter aquela imagem só. Eles parecem ter as chaves do céu e os cadeados do inferno.
Mas são solitários. E aquele homem ali sentado já parece desconfiar de tanto eu olhar pra ele. Amassa a garrafinha de água visivelmente incomodado. Deus, o que há de familiar naquilo tudo? Que traço tão reconhecível é esse que não consigo definir? Se bem que, olhando assim com atenção..., não, ele não se parece com meu pai...
E o incômodo de olhar o faz levantar e partir. E então, nessa mesma hora é que o paulo me abraça, e enquanto John Mayer pergunta em sua música que toca nos meus fones de ouvido se ele seria amado quando ele não é ele mesmo, e que me dou conta: aquele homem parece ser um reflexo do ser como já fui um dia, o futuro que poderia ter sido e que o presente (felizmente) não deixou...
Tecnologia do Blogger.
5 Seus Mistérios:
ainda bem que o presente não deixou! =D
como sempre, vc arrasa!
vou te ver na uece!
beijos!
Mais uma vez a tristeza se mostra bela...
sabe...
Eu gostaria de dizer o mesmo de mim...
Mas já falei uma vez para uma geminiana...
Já me vi no futuro uma vez...
...
Não gostei neda da visão...
Eu quase vi esse homem...
Com diferenças...
Tinha um cachorro do lado e uma garrafa de vinho na mão...
Mas a tristeza, mais que a solidão, ainda estava lá...
Abraçando-o...
P.S.: A tristeza desse post é fruto de eu ter tido mais uma das minhas ilusões despedaçadas...
Você não odeia quando isso acontece de maneira violenta?
Sempre prefiro quando a ilusão morre suavemente...
acho que estamos ficando todos cansados disso, não é?
eu e vc, então...
(ainda bem que nos achamos, mesmo depois de tão perdidos. mas achamos...)
Lua, Lua... por quantos caminhos essa vida nos leva.
Que sejam menos solitários os seus!
Luazinha...
Q delicia é te ler!!!
Saudadona das nossas prosas...
Beijo e mais beijossss
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