.:When You Lost... :.
É algo com o qual ainda é difícil lidar.
Seja quando sopra o vento e me vem o cheiro daquelas plantas recém cortadas, quando o aroma do café do apartamento vizinho invade a minha sala de estar ou quando o mofo que agora reina em teu armário me vem de forma incessante preencher as narinas... E então eu me recordo...
Recordo de ter estado ao teu lado sempre, até o último segundo. Recordo de tua cara de espanto, medo, alívio e nobreza quando sentiu que estava realmente acabando. E somente eu estava ali, a te afagar os cabelos enquanto teus lábios arroxeavam-se e teus jovens, muito jovens dedos enrugavam-se...
Sim, eu também tremia, mas não era de frio. Pelo contrário, naquele instante senti-me tomado por uma incalculável febre, uma angústia quase desesperada de gritar "Me espera! segura um pouco mais o elevador, não sobe sem mim não! Espera até que eu pegue mais algumas flores, mais algumas frutas... O céu está nublado, mas essas lasquinhas de sol escapando por entre a neblina é tão bonito... Dá até uma quase vontade de sorrir... Fica um pouco mais! Ainda nem te mostrei minha casa nova, o jardim dentro da varanda, espera um pouco mais! Me dá tua mão pra eu não me sentir só; eu sou grande, mas eu tenho tanto medo. Espera até eu compreender a indefinível dança dos girassóis da minha janela. Ajuda-me a contar as riscas xadrez de tua camisa..."
Mas você somente sorria... E sorrindo te vi entrar, e a porta se fechou. E teus olhos pálidos perderam de vez o brilho no qual tantas me espelhei para arrumar meus cachos que teimavam em me cair pela testa. E fortemente abracei tua sombra. Era como se ela se descosturasse de ti, e eu, little Wendy, não a devolvesse, para não te deixar voar... Egoísticamente a queria presa mim, para que eu, e somente eu, pudesse voar por teus passos por entre os campos, ou embaixo da cachoeira. Mas eu não passava de um garoto perdido.
Nunca havia me sentido tão infantil. Me sentia feito criança conversando contigo, sentado junto ao fogo, ouvindo tuas histórias, mas naquele intante em que a porta se fechou na minha frente e você se foi numa cama metálica, senti minha infantilidade crescer com o calor que me ardia o peito. Feito bolo que cresce no forno. No momento em que aquelas duas portas fizeram o "crash" final, todo o calor de nossos corpos se concentrou em meu pequeno peito. Pois não havia caixa de metal ou cama fria de hospital que roubasse você de mim.
E como sempre, movido pela pressa da cidade grande, você não pôde me esperar. Não pôde segurar o elevador ao fim do corredor amarelado. E eu fiquei ali, sentado naquela cadeira plástica, olhando apenas o vazio que restara naquele espaço sem graça. E minhas parcas flores murchas em minhas mãos remontam a tudo o que não conseguimos ser. Pois o último Pôr do Sol eu assisti só, e nessa noite até a Lua Nova se condoeu por não ter te ajudado a segurar aquela porta, e me enviou uma estrela com teu sorriso, que trago sempre aqui comigo, tatuado em minha alma tão marcada de lembranças...
Tecnologia do Blogger.
5 Seus Mistérios:
Somos feitos de memórias, não é?
às vezes eu me pergunto se seria bom esquecer algumas coisas... Acho que não... Provavelmente eu cometeria os mesmos erros e os mesmos acertos... Não sei...
Esse texto tá excelente, aliás, tens escrito umas coisas bem densas...(suaves na escrita, profundas na alma)...
Gostei muito dos últimos textos...
Ah... Lembrei de uma música:
"I will give it one more try
Try to get closer to the sky
The time hasn't come for me to leave this place
How can I surrender here when my vision is so clear
I just have to reach, reach a little longer
Reach a little longer" Reach a Little Longer - Allen e Lande
P.S.:Gostei do novo visual do teu universo. ^^
=D
cores novas...
ficou bonito...
bem...
e o texto...
eu já comentei pessoalmente...
então...
...
mas ficou bonito...
Tudo lindo por aqui...
Beijo Luazinha... saudade...
vc precisa lançar um livro, lu, sério!
lindo!
bjs.
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