Manuel Pessoa

Não sou o que vejo
Nem sou o que sinto
Só reflexo do espelho
Verdade detrás do olhar
O mito

A ponte de tédio da qual
Nem cheguei a ser pilar
Saber da loucura, a que
Vem me respaldar
O sorpo do vento, o ser
- E o que sabe ser
Seja como for não me deixo de seguir

Um ser vazio
A tabuinha rasa
O resquício interior do complexo de Édipo
O que sou?
Algo além do tudo e do nada
Um ser que vai ao longo - e na estrada
Estendem-me os braços, e chama
- Vem! Eu sei quem tu és!
Ah, quem sabe disso não sou eu
E nem vocês!
Só vou saber em meu último suspiro
O que eu queria ter sido - e não fui

...:::Futuro ou destino:::...

Se o que parece ruim, pior pode sim ficar
Entre o ser e o não ser, como é que você está?
Poder ter ou partir o melhor do que vivi
Do saber o que é e o que poderia ver

Se o pior tá ruim, e parece assim ficar
Entre o estar e você, o que é que queres ser?
O melhor que partir é poder ter o que vivi
O que poderia ver é o que é o saber

Pior mesmo é ficar o que parece ruim
Não ser como você é estar sem entender
O melhor é poder ter partido o que vivi
Ver o que é e saber o que poderia parecer.


Lua Aaliyah
Eu queria um dia entender
Se sua alma foi pro céu
É porque você fez bem?
Mas qual é o limite
Entre o bem e o mal
E qual é o juiz
Que nos diz o que é certo?

Eu queria alguém pra me explicar
Qual é a distância entre
O ser e o estar?
Onde foi que se perdeu
A noção da realidade?
E quando ficou banal
Esconder a verdade?

Lua Aaliyah

Filos 0 fando


O ser humano é um ser movido a desejo
Deseja saciar sua fome
Deseja saciar sua sede
Deseja saciar sua gana
Deseja saciar sua ânsia
Deseja saciar sua vaidade
Deseja saciar seu sono
Deseja saciar seu ego
Deseja saciar seu sexo
O ser humano é um ser vazio...
Lua Aaliyah


Ok, este já postei uma vez no antigo blog,
o MUNDO DA LUA S/A,
mas acho que vale a pena colocá-lo aqui
e levantar novamente a questão sobre a
essencia do ser - humano...

A milésima terceira noite...

Na manhã do dia 26 de maio, sábado, ele acordou depois de uma noite de muita festa, farra e bebedeira. Ainda zonzo por causa dos excessos, olhou de lado na cama e viu que a mulher já havia ido embora, mas tinha deixado o café pronto, a mesa posta, o quarto mais ou menos arrumado, tudo limpinho e tudo organizado. Ainda sentia o perfume dela nos lençóis.
Levantou, foi ao banheiro, ainda nu circulou pelo cômodo, viu os papéis em cima da mesinha, depois tomou um banho, com a toalha enrolada na cintura pegou uma xicara de café que foi tomada enquanto ele lia o jornal, vestiu-se como de costume, deixou tudo em perfeito estado, ligou para a esposa e avisou que a reunião tinha sido horrível e que ainda aquela noite estaria de volta em casa.

Lua Aaliyah
A aula tinha terminado. Do lado de fora ela esperava. parecia algo comum como era todo dia. Pensava na vida, no que acontecia, no que vivia - e no que não viveu, em coisas tolas e letras de música.
Como qualquer outro um aparente casal se aproxima e senta em um banco próximo, atrás dela. Conversam. A garota inaudivelmente baixo, mas ele é perfeitamente compreendido.
Ele fala sobre dar apoio, sobre estar ao lado, presente. Assume que gosta da menina. A garota parece muda. Ele continua a falar sobre sentimentos e desilusões.
Ela tenta não ouvir a conversa. Pega o caderno, começa a escrever coisas aleatórias, mas não consegue se desviar. Ele fala para a garota coisas que ela gostaria de ouvir. É engraçado. Ele fala que gosta da garota, a garota tem namorado, mas chora. Será dúvida? Ou medo de assumir que está dividida? Ele diz ser adepto das paixões destruidoras. Ela conhecia uma história assim. A garota chorava...
Ele fala em filmes que retratam a situação. Ela pensa:estou só. A garota não sabe o que dizer. A vida arma estranhas armadilhas. ele fala sobre intensidade.
A garota então começa a falar.Mas ela não consegue ouvir. Só escuta a ele. Eele fala agora sobre infantilidade, afirma ter esperança pois o que ele sente não é banal. Eele se preocupa com a garota, quer saber se ela está bem com toda aquela conversa. Elas pensa se havia quem se preocupasse com ela...
O assunto então toca no esquecimento. Ela queria sumir. E então ele fala de culpa. Será que aqeueles dois algum dia compreenderão que não há culpados? E que por mais que ele ache que traiu a confiança da garota em que ela mais precisava, isso não era verdade?Ele não podia trair a si mesmo. eele chorava. falava que ia sumir. Ela sabia que isso não adiantava.
A garota não entendia. A vida parecia um filme... Mas agora ela não era a atriz principal.
E foi de pensamento em memória se desviando da conversa próxima. Tantas marcas ainda não cicatrizadas em seu coração. Era ela agora quem fazia força para não chorar também. O casal foi embora. Novamente só ela ficara. Só, no seu esquecimento, nas suas más lembranças que ela mente a si ter esquecido, sozinha na ânsia de ser feliz em vez de promover a felicidade dos outros. Sozinha como sempre estava. Sozinha como sempre tinha sido. Sozinha como sempre era...

***

Na noite quente um vento frio cortou-lhe o rosto. A meia lua encobriu-se. Mau presságio...

Lua Aaliyah

= SINESTESIA =

Não dê ouvidos
Às cores da cidade
Não veja os ruídos
Dos cheiros
Sinta-se inteiro
Quando estiver dividido

Nem sinta na pele
O odor do sorriso
Aguce os sentidos
Da vida
Só coma a saída
Se o principal for servido

E no tato das retinas
Respire o sabor
Retenha o aroma
Do não
Na ponta da línga, então
É o corpo da fôrma

Lua Aaliyah

Prisões, manicômios e hospitais...


Estranho esse négocio de sala de espera de hospital... Nos deparamos com o que talvez sejamos amanhã...
Já parou para pensar no envelhecer?
Eis que então está ali na sua frente, totalmente dependente, sem movimentar-se direito. Enquanto reclamamos de uma simples torção no dedão do pé, nem prestamos atenção em braços imobilizados por simples batidas no balcão da cozinha, afinal, os ossos depois de uma certa idade não são mais os mesmos....
VOCÊ TEM MEDO DE ENVELHECER?
Eu tenho!
Não pela beleza física, pois esta é fútil e se de nada me serve no presente a não ser para atrair falsos admiradores que querem de mim apenas meu corpo e não me valorizam pelo que eu sou de verdade, tipicamente o caso de "uma noite e nada mais", quando envelhecer não há de ter utilidade alguma mesmo...
Tenho medo por essa relação de dependência, de sensação de estorvamento, de atrapalhação. Não gosto de me ajoelhar sequer para amarrar cadarços, como seria ter de pedir ajuda para coisas simples como alimentar?
Não sei se quero pensar nisso agora. Ver todos aqueles idosos na sala de esperar da emergência do hospital me deixou deprimida. É estranho.... A gente nunca pára para pensar nessas coisas, acha que vai ficar assim jovem para sempre... Lá se foram 21 anos, dentro em breve notarei que mais 21 se passaram, e o que virá depois? Será que estou fazendo o que realmente deve ser feito? Não quero entrar no campo das discussões a la "carpe diem" agora, queria tentar me ater ao fato e ao medo de envelhecer, a não querer ser dependente, a não ver minhas forças indo embora dia após dia, atrapalhando, esperando a morte chegar.
Tenho 21 anos. Em pouco menos de dois meses completo 22. Não consigo me imaginar com 30 anos. Não sei o porquê, mas não consigo fazer tal projeção. Minha imaginação chega só até os 25. você já se imaginou com 30 anos? (sei que muitos amigos tem na faixa dos 24 a 27 anos)
Não quero ser dependente. Não quero envelhecer e ter que ser criança novamente. Mas não dá para mudar isso. Quando se pensa sobre, dá uma sensação de impotência diante da vida... Então me dou conta de que não nascemos, apenas começamos a morrer. Mas aí já enveredo por outras filosofias.
Talvez a velhice (não no sentido pejorativo, por favor, não me entendam mal!) tenha mesmo dessas coisas. Dói refletir sobre. Mas a "imortalidade" deve ser ainda mais dolorida. Buscar o quê então? A fonte da juventude? Pfffffff............ Bobagem...
O que sobra então? Torcer para que os filhos não nos abandonem em asilos fétidos e solitários? E se eu não tiver filhos? Será que eu quero mesmo chegar aos 60 anos de idade? Será que eu quero mesmo chegar longe assim a algum lugar?
Você já pensou sobre isso? O que você decidiu?
É estranho...É estranho... É vazio...
Preciso descobrir
um meio de te achar
e a gente se encontrar
na gente.

Eu quero não sair
até se completar
o amor que sente.

Eu quero produzir
no último momento
o verso que completa
e que se fez.

E o corpo não faz nada

E mais que tudo
uma outra vez.

Só peço que me deixes
acordado
ao te ver
adormecer...

Lua Aaliyah

...não quero medir a altura do tombo...

Ao som do Baleiro ela pensava e ouvia sua vida. Tudo ali no seu passado, na sua frente, bem ao seu lado. Era como se tudo se encadeasse num aparente circo de horrores que todas aquelas lembranças lhe causavam.

Pensou no que tinha sido. Eu não quero ver você cuspindo ódio... E como sarar a dor? Era tudo tão distante e as marcas tão recentes. Mas ninguém a entendia. Isso já virara costume. Aliás, ela nem sabia mais se havia ali algo para se entender...

Pensou no que era.

Um barco sem porto, sem rumo, sem vela. Não tinha onde ficar, não sabia para onde ir, nem tinha como partir. Simples assim.

Pensou no que poderia ter sido, em qual era a parte da outra estrada no seu caminho, mas talvez essas estradas não se encontrassem. Ou tivessem até se cruzado no sinal vermelho. Sabe lá...

Estava tudo bem perto, tudo ali, na sua frente, feito retroprojetor passando nas nuvens. Quanta coisa ficou perdida em letras e canções, palvras e silêncios...

Quis pensar no que poderia ter sido. No que seria. Mas estava tudo muito longe mesmo. O vento no rosto, propaganda da tv, não queria nada daquilo, sabia da queda, sentia o veneno, não tinha mais crença nem em Deus nem no Diabo.

Não queria voltar para casa. Antes o filme das lembranças do que a certeza da realidade. Não sabia o que a deixava mais triste. Restava a alegria fingida e a falsa tranquilidade de quem não sabe quase nada. Afinal, não era preciso saber mais nada. Pelo menos não os outros...
I thought I'd found the boy of my dreams
(Eu pensava que tinha achado o cara dos meus sonhos)
So it seems this is how the story ends:
( Mas então parece que é assim que a história termina:)
He's goin'to turn me down and say
( Ele virará para mim e dirá )
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")

I thought for once
( Eu pensei uma vez)
It couldn't go wrong
(Que eu não poderia estar errada)
Not for long! I can see the way this ends:
( Não agora!Eu posso ver como isto acaba:)
He's goin'to turn me down and say
(Ele virará para mim e dirá)
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")

Never again! Through and with love
( Nunca mais! Junto com o amor)
And through with them!
( E junto com eles!)
They play their game without shame,
( Ele joga o jogo deles sem ter vergonha)
And who's to blame?
( E de quem é a culpa?)

I thought I'd found a guy I could trust
( Eu pensava que eu tinha achado um cara no qual eu podia confiar)
What a bust! Now I see the way this ends:
( Que besteira! Agora eu posso ver como isto acaba:)
He's goin'to turn me down and say
(Ele virará para mim e dirá)
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")


I should have seen the signals and stopped
( Eu devia ter percebido os sinais e parado)
What a flop! now I see the way this ends
( Mas que coisa! Agora eu vejo como isto tudo acaba:)
I'll let his turn me down and say
( Eu vou deixar ele virar pra mim e dizer:)
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")

I thought I'd found the guy of my dreams
(Eu pensava que tinha achado o cara dos meus sonhos)
So it seems this is how the story ends:
( Mas então parece que é assim que a história termina:)
He's goin'to turn me down and say
( Ele virará para mim e dirá )
"Can't we be Friends?"
("Nós não podemos ser amigos?")

Não há um luar que vem em vão
Que não deixe algum sinal no coração
Quando vêm aquelas noites de luar
Vêm assim tão deslumbrantes
Que prefiro ver o dia raiar

Não há um luar puro e inocente
Sempre a chama é quente
Sempre queima a gente
Sempre é envolvente
Risco permanente

Entorpece, dá o bote
O seu veneno é muito forte
Não há um luar inofensivo
Que ilumine apenas
Sem outro motivo

É depois de alguma noite de luar
Que a paixão bate mais forte
E nem sempre existe alguém pra se amar

Não há, minha gente, oh não, luar
Só tão cândido, só romântico
Só lunático, só volátil
Sempre é um pouco além
De onde alguém espera ver o bem

Não há mais luar do tipo ingênuo
Que não deixe os seus encantos no sereno
Justamente nessas noites de luar
Quando o espírito fraqueja
Vem a Lua ali tentando enfeitiçar

Não há um luar de confiança
Mesmo na bonança, luz suave e mansa
Abre o foco e avança
Finge que é esperança
Pega quem quer ser feliz
E lança o mal bem na raiz

Não há um luar leal e amável
Que desperte algum desejo mais viável

Lua, Lua, sua história perpetua
Pena, tanta gente lhe cultua
Lua, Lua, que do alto se insinua
Não se meta, fique aí na sua

Luiz Tatit

Confissão

Se vim aqui é porque fiz coisas más.
Tirei o pouco de esperança que tinhas naquilo que te cerca. Fiz-te de pequena uma grande adulta, desde cedo te mostrei o que há de escuro e mentiroso no ser humano.
Tirei o brilho de teus olhos, transformado em opaco pelas lágrimas, marquei teu rosto pela tristeza, gelei teu coração e impedi que te relacionasses com teu próximo.
Criei e fiz brotar em ti a semente da desconfiança, da autopiedade, da dúvida, alimentei em teu íntimo o gosto pela solidão, pela escuridão, pelo vazio.
Das tuas brincadeiras infantis, nada restou além da responsabilidade precoce, da culpa, da mentira familiar, do abandono. Brincadeiras solitárias, bonecas quebradas, bebês verdadeiros...
Mas cresceste doce menina... e acompanhei de perto esse teu crescimento....
Da tua passagem para a adolescência eu te trouxe uma rejeição, falta de informação e a dúvida. Não sabias o que te acontecias e eu não deixei que ninguém te explicasse. Tiveste sempre que aprender sozinha, afastei de ti as possibilidades de clareza e compreensão das mudanças e diferenças.
De teus relacionamentos tirei a estabilidade, tirei a afetividade e a sinceridade. Aprendeste as coisas certas, minha menina, mas sempre através das pessoas erradas. Foste apostada, pré julgada, má interpretada. Tiraram tua liberdade, tua capacidade. Fizeram de ti dependente emocional por anos, fizeram com que duvidasses de ti mesma, e eu sempre ali a observar, impassível, às vezes até contribuindo para tudo o que te acontecia, afinal, se vemos algo errado e não fazemos nada, temos culpa no que acontece, não?
Te traíram, te enganaram. Sempre creste no amor, e no entanto eu sempre te trouxe os amores menos recomendáveis. Sempre te fiz crer que eles seriam eternos, mas eu sabia que não eram. E teu coração já frio, foi gelando cada vez mais.
Trouxe dificuldades no teu trabalho, sabia que ele jamais te realizaria. Tirei de ti a vontade de ir atrás de coisas novas, acabaste desistindo de tudo. Inclusive de mim.
Venho então pedir-te perdão pelos meus erros, que acabaram te fazendo ser o que és hoje, uma alegria contagiante, mas que não contagia a ti mesmo, e por isso soa falso. Estás sempre rodeada de amigos, e sempre sorris, mas no fundo choras a cada dia, sentindo-me em tuas veias. E agora isso afeta a mim também. Agora sei tudo o que te fiz, mas não há como voltar atrás.
Espero que não me roubes de um todo. Não, não terias tal coragem. Estaremos juntas até o fim. E, bem, não sei prever minhas atitudes, tua instabilidade vem de mim, então, nada posso fazer a não ser confessar-me e assumir minha culpa. Apenas peço que não desistas de mim.
Seja então o que tu quiseres!!!

Vida




Lua Aaliyah

Astronauta de gesso

“Na lua o lado escuro é sempre igual
No espaço a solidão é tão normal...”

Sexta feira. Manhã. Nublada, mas quente. Havia sido acordada as seis e meia da manhã, isso para alguém que sofre com as ausências de Morfeu (isso para insônia soar poético) é algo um tanto grave.

Ali estava, só em casa. Em frente ao seu computador lia os comments das poucas pessoas que visitavam seu blog – poucas, mas importantes!!! – e começava a ver que tudo se encaixava de forma esquisita.

Estivera a olhar a lua. Era sabido por todos o quanto ela era atraída por esse astro, daí o próprio nome dela. Mas essa não era a única coincidência. Não era muito dada a filosofia, mas dessa vez deixou-se levar. E viu as semelhanças.

Lá estava ela. Sozinha. No meio de tantas companhias. Todos a admiravam, a achavam linda, embora cheia de fases, com um jeito encantador, atraente, companhia literária marcante, até mesmo só para se ficar calado, ali perto, olhando; ela estava ali, tão palpável e ao mesmo tempo tão inatingível. E ela era genial, sempre correta (aliás, foi vendo os comments desse post que surgiu o pensamento deste novo post. Seria esse um post do post? Enfim, continuemos...), todos a achavam certinha, sempre com sua regularidade, nada de inesperado acontecia, quando muito um eclipse raro que encobria sua face bela ou seu sorriso, mas nada que fosse além de uma lágrima ou duas, apenas uma sombra em sua luz; era sempre admirada pelo seu jeito, pelas nuances que a envolviam. Mas, na verdade, ninguém sabia o que se passava em seu lado escuro, que era sempre igual.

E parecia que ninguém se importava com isso. Bastava apenas que ela estivesse ali, a animar quem a via. E na maioria das vezes a pessoas sequer prestavam atenção no esforço dela para estar sempre ali. Toda noite era assim. E mesmo quando ela não aparecia, pouco fazia falta. Apenas alguns poucos sentiam que havia algo muito mais além do que um simples reflexo da luz do Sol que chega até nós em noites claras.

Esses pensamentos a deixaram tonta na outra noite. Ao acordar e ver os comments, aí que deu o clique, entende!?

A genialidade que ela não queria ter era proporcional ao medo de perder essa aparente clareza que a equilibrava no fio da navalha. Continuava não querendo filosofias. A manhã havia chegado. Estava aumentado o calor. O pensamento da outra noite passara. Agora era vida real. Genialidade. Correção. Admiração. Escuridão....

É melhor arrumar minhas coisas e cuidar de não enlouquecer ainda este ano.

Fuso Horário

Tem dias em que me perco, dias em que fujo
Dias em que me escondo em cortinas de fumaça
Tem dias em que abro a ti meu coração
Alguns dias sou só sua, outros dias, não

Há dias em que conto e há dias em que me calo
Me fecho em lágrimas, me encerro no quarto
Mas há dias em que os sorrisos nunca me faltam
Alegrias em tristezas que em mim se guardam

Tem noites, antes de dormir, que juro que penso
Viver a vida inteira em prol de um único momento
Sentir cada gota do sopro do vento chegando
Até mim, respirando, soprando, vivendo...

Há dias em que me entrego a um sentimento
À raiva, ao amor, ao sonho ou ao medo
Então não me escondo, vou do céu ao inferno
Dias em que quero ter tudo ou não sei o que quero

Em mim sei, há alguém que não sabe o que é
Se me olho no espelho ele busca viver
Parece ser um alguém que não tem medo de ser
É alguém com quem não sei como lidar
Quer ser feliz e esquecer o que de mal se deu

Há dias tão calmos que até me arrependo
Palavras não ditas, idéias não feitas
Os dias em que tenho as asas cortadas
São sonhos desfeitos e a busca do nada

Tem dias porém que tudo parece dar certo
As coisas vão para frente, os planos acontecem
Mas é raro isso acontecer, e acontece mas é raro
E sempre parece que não vai acontecer
É raro!...

Lua Aaliyah

Aterro...

" Miles de lunas pasaron
y siempre ella estaba en el muelle
esperando..."


Ela via o mundo passando pela janela do carro. Seu ângulo de visão agora era outro. Pensava, pensava, pensava... Por que não conseguia parar de imaginar coisas que talvez nunca fossem acontecer? E assim ela viajava... Mas não conseguia não se deixar levar por tudo aquilo. Mais uma tarde, lá ia ela, sempre a tornar, a ir ao mesmo lugar. E o mesmo lugar era onde sempre ela tinha ido, não muito distante, sempre ali, dentro dela mesma. E ela pensava.
Engraçado, quando a gente sente nunca escreve do mesmo jeito. Que portal será esse que separa as idéias das palavras? Então ela não escrevia, apenas sentia, e não podia partilhar o que se passava em sua mente.
A hora chegava. O Sol se punha. Era aquela época em que Sol e Lua ficavam no céu ao mesmo tempo, à tardinha, e ela lembrou de uma música que dizia que isso não era possível. Mas, que mentira, ela sentia e pronto, o Sol se ia e a Lua sempre ficava só no céu estrelado. E ela ria disso... sozinha no meio de tantas estrelas...Era estranho.
E ela não entendia o porquê de sentir falta de algo que jamais tivera. Mas, o que temos propriamente? O que é propriamente nosso? Não estava afim de questões filosóficas.
Queria apenas o afagar em seus cabelos, o abraço no fim de um cansativo dia, um sorriso, um piscar de olho, queria apenas chegar em casa e lhe dar o chocolate que havia comprado ao passar em frente a loja de doces e lembrar dele. Queria saber se ele tinha gostado do livro que ela lhe recomendara ou então comentar sobre o cd que ele a emprestara. Queria mostrar o quanto gostara do pingente em forma de Lua que ele havia lhe dado, ou ver que ela havia acertado no número da jaqueta, e que agora ele não mais se resfriaria ao apanhar chuva e trabalhar no ar condicionado...
Não. Não era bem assim que acontecia. Ali estava ela vendo a vida passar pela janela de seu carro. Estranho a rua tão livre àquela hora, geralmente ao anoitecer o trânsito está um caos. Mas parecia que pelo menos naquele dia o até o destino tinha pena dela...
Sempre a esperar... E a estrada pareia a levar para o vazio... Nesse mundo distante além do barulho do mar... Ninguém ao lado, caiu a noite, sentiu o frio...

"I don't mind spending every day
Out on your corner in the pouring rain, oh
Look for the girl with the broken smile
Ask her if she wants to stay awhile
And she will be loved
Please don't try so hard to say goodbye..."


Lua Aaliyah

Curriculum vitae II

Filha da Luz. Vivendo a lira dos 20 anos. Livre.
Rua onde sua casa fica, número da sua casa.
Seu bairro.
Número de sua coleira, ops, telefone celular.
Não adianta numero de recados, não os dão.

*Formação profissional

Estudou sempre no mesmo lugar, não teve a chance de conhecer coisas novas.
Local:Mundinho fechado.
Período: desde que chegou na cidade até terminar o prazo de validade.

Faculdade de sonhos e ilusões perdidas, curso de enganar-se a si próprio, habilitação em tapar o sol com a peneira.
Local: Pequeno grande mundinho ilusoriamente mais aberto.
Período: Do fim do prazo de validade anterior até uma data estelar desconhecida.

*Experiência

Noivado mal sucedido
Cargo: Mãe, irmã, amiga e namorada nas horas vagas.
Descrição:Período de relacionamento longo, porém não intenso, movido pelo costume que acabou pela falta de muita coisa. Lapso de serenidade que motivacionou o término.

Paz e viço
Cargo: Amiga e companheira de si mesma.
Descrição: Período de paz interior, saídas com as amigas, falta de preocupações e despertar de elogios provindos do sexo oposto. Acabou por burrice.

Namoro enganoso
Cargo: Mãe, confessora, auxiliar de professora e namorada muito de vez em quando.
Descrição: Relacionamento curto porém aparentemente intenso. Substituído por longas jornadas de trabalho que culminavam em reuniões de coordenadoria nos bares do Montese.

Falta de sentido em algumas coisas
Cargo: Procuradora de significado no que rodeia.
Descrição: Sentir a vida passar sendo tomada por uma sensação de fracasso, substituída logo após pela sensação de que tudo é possível. Ainda nesse cargo.

*Extras

Tia, aspirante à santa, resolvedora de pepinos e conselheira de todas as horas. Cuida sempre de todos.

*Pretensões

No fim das contas, nem eu sei mais o que eu quero.

Curriculum Vitae

Aos 5 anos: Descobri que tudo o que minha irmã mais velha fazia era culpa minha.

Aos 7 anos: Percebi que escola nem sempre é tão divertido quanto a gente imaginava...

Aos 10 anos: Notei que a professora sempre inventava de olhar meus cadernos justo no dia em que eu não tinha feito a tarefa.

Aos 12 anos: Vi que alguma coisa em mim estava mudando, mas ainda não sabia explicar muito bem o que era...

Aos 14 anos: De repente, pensar em beijar os meninos não era mais algo assim tão nojento e absurdo.

Aos 16 anos: Vi que pintar o cabelo de roxo, passar lápis vermelho no olho, botar um crucifixo no pescoço e vestir preto para parecer diferente só me deixava ainda mais igual a todos

Aos 17 anos: Primeiro deslize para entrar no mundo dos adultos. Descobri que a coisa que você acha que vai te fazer feliz nunca é o que seus pais querem pra você...

Aos 18 anos: Não mudou muita coisa dos anos anteriores... Maior? Só na idade mesmo...

Aos 19 anos: Percebi que a vida universitária é muito mais do que se imagina, e que justo os professores mais chatos são os que dão em cima de você, e os mais legais são os mais sérios nessa área...

Aos 20 anos: Tive jogado na cara que a vida não é mesmo um filme de amor....

Aos 21 anos: Aprendi que basta ser eu mesma e pronto... o resto que se dane..

Só as mães são felizes



Por que nossas mães nos contam histórias sobre príncipes encantados quando somos crianças? Já parou para pensar nisso?
Quando somos adultas e achamos que encontramos nosso homem ideal (ledo engano!), elas nos dizem para sempre gostarmos menos do que sermos gostadas, para ter sempre o homem à nossa disposição para o que bem quisermos, para não nos deixarmos impor por eles, não nos apaixonarmos, não nos entregarmos, não nos envolvermos, etc.
Mas então por que elas nos fazem crescer acreditando que não é nada disso; contam-nos histórias de príncipes encantados que vêm nos salvar montados em seus cavalos brancos e vestidos com armaduras reluzentes, que vão nos tirar de um castelo ruim e solitário e nos levar para um palácio onde a vida é maravilhosa, repleta de amor, carinho e felicidade, com direito a um “...e foram felizes para sempre!!!”???
E contam histórias fabulosas de amores inesquecíveis e intensos e grandes e eternos e bonitos e românticos... Aí quando a gente cresce, cadê?
O nosso príncipe acorda de mau humor, sequer dá “bom dia”, vive com a barba por fazer, esquece a toalha molhada em cima da cama, meia suja dentro da gaveta, não manda flores nas datas especiais, diz que você está engordando e os mais descarados ainda ficam dizendo na sua cara o quanto a Daniele Winnitz (putz, como é que escreve mesmo, hein?) é mais gostosa que você, quase que deixando claro que você nunca será como ela, que suas celulites não vão sumir e nem a gordurinha desaparecer (ah, qual o avião que não tem pneu? A Daniele Winiit- sabe-lá-o-quê que se dane!!!). Eles apenas dizem: - Benhêêê, acho que você está precisando de uma academiazinha, não?
O nosso salvador não liga quando diz que vai ligar, nunca tem tempo para você, está sempre em reunião ou já marcou algo com os amigos ou tem futebol. Não existem mais cavalos brancos, no máximo um coletivo branco, ou, em casos de muita sorte, um carro branco (ok garotos, pode parecer materialismo ou interesse, mas namorar a pé... complica!). As armaduras reluzentes parecem terem se transformado numa eterna combinação de bermudão velho com camiseta e chinelas havaianas, que nos fins de semana especiais – coisas rara depois dos 3 meses de relacionamento – quando se sai para fazer algo diferente, é substituído pelo jeans surrado e a gola pólo.
Não se puxa mais a cadeira, não se estende mais a mão para ajudar a entrar no carro, não se manda mais flores. Declarações de sentimento agora são coisas de outro mundo. Quando se está em apuros o príncipe, ao invés de resgatar e salvar a pobre mocinha, aproveita é para sumir!!! Como é que pode? Não entendo...
Onde foi parar aquele homem bom, generoso, honrado, cavalheiro, corajoso e destemido, que gosta de mim acima de tudo, capaz de enfrentar um dragão ou uma bruxa má para me ter ao lado dele e comigo ser “...feliz para sempre...” ???
Ah mães... não façam mais isso com suas filhas...


"Amor, meu grande amor
Só dure o tempo que mereça
E quando me quiser,
que seja de qualquer maneira
E enquanto me tiver
Que eu seja a última e a primeira
E quando me encontrar
Meu grande amor
POR FAVOR
ME RECONHEÇA..."
Amor, meu grande amor - Barão Vermelho


Lua Aaliyah
Tecnologia do Blogger.