Something's missing

Eu não estou sozinho, bem que eu queria estar, assim eu saberia o porquê de estar triste. Eu não consegui encontrar um amigo por perto para me amar assim, como eles me amam agora...

Estou tonto de um shopping center. Eu fui procurar por alegria, mas comprei ela toda. Assim, isso não impede que a fome doa, e uma sede na qual eu teria de me afogar antes para algum dia satisfazê-la...

Alguma coisa está faltando, e eu não sei como consertar. Alguma coisa está faltando e eu não sei o que é, não sei o que é de forma alguma..

Quando chega o outono, ele não pergunta. Ele simplesmente entra no lugar em que te deixou na última vez. E você nunca sabe quando ele começa até que haja neblina dentro do vidro em volta do seu coração de verão...

Alguma coisa está faltando, e eu não sei como consertar. Alguma coisa está faltando e eu não sei o que é, não sei o que é de forma alguma..

Eu posso não estar certo de que meu estado de espírito não seja algo causado por mim mesma. Eu queria que houvesse algum desses testes de farmácia para solidão, para uma solidão como esta.

Alguma coisa está faltando, e eu não sei como consertar. Alguma coisa está faltando e eu não sei o que é, não sei o que é de forma alguma. Alguma coisa está diferente, e eu não sei o que é

Amigos... checado, ok
Dinheiro... checado, ok
Uma boa dormida... checado, ok
Sexo oposto... checado, ok
Guitarra... checado, ok
Microfone... checado, ok
Mensagens à minha espera quando eu chego em casa...

Por que tudo o que eu acho que preciso sempre vem com pilhas?
O que você acha que isso significa?

.:John Mayer:.
- Olá! Tudo bem?

Simples assim. Você me chega com um sorriso no rosto querendo saber se está tudo bem comigo. Com sua roupa esportiva, suas dúvidas sobre a vida, de onde viemos, para onde vamos, por que faz calor... Com seus cabelos vermelhos ao vento, o ar distraído, os olhos curiosos olhando para todos os lados e acidentalmente passando por mim. Como eu estou?
Como estar diante de alguém que de tão parecido, às vezes me confundo e acho que sou eu mesmo - exceto pela beleza inocente que ela possui e eu não. Se soubesse que ao cruzar o olho com o meu, me sinto estremecer por dentro, como se o gelo de mil invernos queimassem com o calor de mil sóis, e assim todos os exageros poéticos e patéticos fazem sentido de repente, e sinto que daria tudo para ter aqueles olhos cor de mel, escondido atrás dos óculos de metal, fixos em mim no milésimo de segundo entre ela me perguntar e esperar que eu responda; e me arrepio inteiro com tudo o que desejo e sinto quando seus lábios carnudos e suaves dirigem qualquer palavra boba para mim, com aquela voz meio rouca e desafinada que tanto adoro ouvir, fazendo com que eu me afogue em cada som, letra ou palavra em uma enxurrada de paixão e expectativa que me leva para longe... Se ao menos um dia ela soubesse... Se eu tivesse a coragem...

- Tudo bem, e você?
"Saudade é não saber. 
Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. 
Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. 
Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. 
Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. 
Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando."
..::Martha Medeiros::..

A garota do guarda-chuva

Saiu de casa pra a faculdade como fazia todos os dias. O mesmo clima quente, o mesmo ônibus lotado, nada era diferente, nem mesmo a sensação de que nada naquela rotina fazia sentido ou o levaria a algum lugar. A inquietude de sempre, buscando equilíbrio no fio da navalha do que o mundo quer de você e o que você precisa querer dele.
O excesso de pensamentos incomodava quase tanto quanto o abafado daquele dia meio nublado e úmido, Não sabia se devia continuar a estudar ou se largava tudo. Se procurava um emprego ou se prestava concurso. Se ficava conformado com a falta de um amor antigo ou se buscava uma nova paixão. Em meio aos buracos da cidade que sacudiam o ônibus, só tinha a certeza de que não sabia de nada. E riu de tão clichê que isso era.
Ao encontrar com os colegas da faculdade, sentiu certo alívio. Conversar sobre filmes, mulheres, música e cerveja o distraia de si mesmo, ainda que por alguns instantes. Então ele viu. Como nunca reparara antes?
****
Ela havia saído de casa cedo, como sempre, não gostava de se atrasar. De sua casa à faculdade era cerca de meia hora, coisa rápida se estamos falando de transporte público. Gostava muito de ler, então sempre aproveitava o caminho para mergulhar em alguma historia, assim evitava o risco de mergulhar na própria mente e se perder por lá. Naquele dia não foi diferente, e o escolhido como companhia foi o bom e velho Fernando Sabino. Fazendo da queda um passo de dança e transpirando muito naquele dia que parecia querer ser dia de sol e dia de chuva ao mesmo tempo, ela chegou ao seu destino.
Não é que não tivesse amigos. Ela tinha, e muitos. É que ela gostava de ficar sozinha, só isso. Não era antissocial nem nada, só não queria ser sugada daquele mundo construído tão delicadamente para uma vida real vazia e sem sentido. E pensando no quanto isso parecia clichê, riu-se e ficou ali sentada em uma mesa embaixo de uma árvore, lendo a história de Eduardo enquanto a aula não começava.
***
Ela tinha o cabelo negro e cacheado, que contrastava contra aquele céu cada vez mais esbranquiçado. Ali sentada, parecia uma ninfa. Ele não sabia o porque de tamanho arrebatamento, mas aquela menina ali, sentada, atraiu seu olhar de uma forma que o deixava desconfortável e incrivelmente à vontade ao mesmo tempo. Tão distraída, o resto sereno e uma gota de tristeza no olhar que o seduzia profundamente.
A vontade que ele tinha era de por uma flor no cabelo dela, escrever poemas, quem sabe até uma canção. Sentia-se como um poeta perdido. Fora tirado daquele torpor por seu amigo a bater-lhe nas costas e avisar que já era hora. Ao olhar de novo, ela já estava levantando e indo embora. Mas, para onde?
***
Nem sentiu o tempo passar. Quando deu por si, estava todo mundo indo para suas salas. Olhou de relance ao redor, muita gente rindo, conversando alto. Achou estúpido um cara chamar o amigo dando-lhe um tapa. Sentiu certa pena até, parecia que ele voltava de alguma viagem. Comoveu-se com a expressão assustada e sem graça dele e depois sorriu. Pegou seus livros e foi para a sala.
***
Peço licença...
Isso de assistir aula parece coisa de seriado gringo adolescente não importa a história. O tempo parece não passar enquanto você pensa num universo de coisas e tem certeza de que há muito para se fazer lá fora. Com os dois parecia não ser muito diferente. Ele pensava nela, claro. Em como parecia perfeita a tristeza em seu olhar. Se ela seria simpática ou se teria o espírito meio amargo como o dele. E se perdia pensando em tanto pensar. “vento frio agora. Só me falta chover!”.
Já ela se perdia entre livros, aulas e uma vontade inexplicável de chorar. “Tomara que chova mais tarde”.
***
E como tudo acaba, não só o que é bom, mas o que é ruim também, aquela manhã acabara mais cinzenta e nublada. Era hora de ir embora.
Ele olhava para todos os lados à procura dela, parecia até meio paranoico, mas onde ela estava? Vasculhou por um bom pedaço de tempo em busca, até que vira seu ônibus passar ao longe, havia perdido. Para piorar, o sereno começava a cair fino e frio em seu rosto. Parecia que era tarde. Melhor ir esperar o próximo ônibus e ir para casa com aquela visão na cabeça.
A chuva agora caia mais forte e não havia nenhum abrigo por perto. Então, o inesperado aconteceu. Uma voz doce perguntava “quer carona?”. Era ela, ainda mais linda sob aquele guarda-chuva estampado. Lembrara-se dele e sentiu uma confiança inexplicável para chegar perto e oferecer-lhe espaço.
Ele só balançou a cabeça afirmativamente e sem trocar palavra, colocou a mão em volta da cintura dela e foram caminhando até a parada. Ele não sabia porque tinha feito aquilo e ela, por que não impedira. Simplesmente parecia algo tão natural que os dois se deixaram levar.

Durante os minutos seguintes, era como se tudo se encaixasse. Calados ficaram, mas quando acontece do mundo fazer sentido, quem precisa de palavras? Perderam-se num misto de vergonha e completude até que as buzinas os trouxeram de volta à realidade. Ele precisava ir. Então ele estava atônito por nada ter dito ou perguntado. A paz transformou-se em angústia quando ela falou “seu ônibus chegou!”. Travado, ele sorriu e subiu na condução. Sem olhar para trás, ele foi se maldizendo o caminho todo, triste e raivoso pela promessa perdida.

How to save a life...

(Uma vida aventureira não significa necessariamente escalar montanhas, nadar com tubarões ou pular de penhascos.
Significa arriscar a si mesmo deixando um pouquinho de você em todos aqueles que você encontra pelo caminho.)
O complicado não é viver. Não é amar. Nem é fazer escolhas dia após dia. O complicado não é assumir responsabilidades, acordar atrasado, engolir qualquer coisa e ir trabalhar, em mais um dia que de tão igual aos outros a gente já nem se dá mais conta. Aliás, se dá conta sim, quando chega o fim do mês e com ele, as contas para pagar e nos lembrar de tudo o que a gente tem que dar conta.
Mas dar conta também não é o complicado.  Nem o "ter que". Por que, se a gente prestar atenção, viver esse dia a dia, um dia após o outro, é como arrancar um curativo das costas, você tem que ser rápido, e um pouco doloroso. Apenas vinte e quatro horas nas quais muito se faz mas nada fica.
Eu não acho que lidar com isso seja complicado. Há dias bons e há dias ruins, isso é tudo.
O complicado não é o que vem de fora pra dentro, não é estar atrasado em dia de chuva, machucar o dedinho na quina da mesa, bater o carro, jantar com os pais, comprar presentes de natal ou sorrir para alguém. O complicado é tudo o que vem de dentro pra fora. É quando você para e olha para si mesmo, e percebe tudo aquilo de que sempre fugiu ao dar tanta atenção ao mundo lá fora.
O complicado é perceber, sentir, expirar, dormir, escolher e não simplesmente ficar ou sair. É admitir que já não se é mais o mesmo e entre tantas máscaras usadas para aguentar as tais vinte e quatro horas, o trabalho, a família, os amigos e amantes, você acaba não tendo mais um rosto, já queimado de tantas trocas. E como voltar atras em busca de quem se é de verdade sem quebrar as expectativas daqueles que tem uma ideia formada de quem você é?
Não, voltar atrás não é complicado. Entender tudo isso é o complicado.

O que os olhos não veem...


Luzinha é uma leoa muito sagaz que luta muito para conquistar o seu espaço dentro do bando. O sonho de Luzinha é ir para fora da reserva e conhecer um pouco o mundo. Ela já viveu um tempo fora da reserva e lembra com saudade os dias em que morava na savana, quando era filhote. Luzinha já não aguentava mais aqueles bichos da reserva, sempre tão estúpidos e ignorantes. Ela gostava de acompanhar as informações da savana, sonhando com o dia em que sairia da reserva.
Luzinha também queria ser algo mais do que uma simples leoa e seguir o bando. Ela queria ser importante, queria ter seu espaço, queria se sentir completa.
Mas entre querer e o ser tem uma distância do tamanho de uma vida inteira.
Luzinha cresceu ouvindo que tinha potencial. Que chegaria longe. Que poderia ser quem ela quisesse. Só que não foi bem assim. E ela às vezes ficava triste em ver outros leões do bando conseguirem coisas pelas quais ela lutava com garras e dentes. O leaozinho com quem estudara junto as artes de caçar agora caçava sozinho fora dos limites do bando. Luzinha então pouco o via, por que ele agora sabia trilhar novos caminhos os quais ela nunca havia sonhado, apenas trocavam uma palavra, uma visita nas poucas vezes que ele vinha até o bando.
Todas as leoas do círculo de leões já tinham seus postos definidos dentro do bando, muitas ao lado de imponentes leões. Então, Luzinha já não as via por que elas estavam sempre muito ocupadas ou por que ela não queria ver a leoa na qual ela n]ao tinha se tornado.
Mas o que mais doía em Luzinha era ver aqueles pequenos e jovens leões terem sido escolhidos para sair da reserva. Eles iriam passear livres pela savana afora, mandando informações sobre a vida fora da reserva. Como Luzinha queria ter sido escolhida! Mas era uma ideia nova e Luzinha já estava velha.
Preferiu então não ver mais as informações da savana.
No final, para não sofrer, Luzinha foi viver sozinha, quietinha, na sua, em um cantinho calmo da reserva.

Cartas para lua

Eu nem sei se eu devia te dizer isso, mas hoje eu acordei com uma vontade danada de ser feliz. Não sei se foi a manha bonita e fresca – coisa rara nestes tempos de agosto, ou talvez o Cazuza me falando para dar o meu desprezo a você que me ensinou que a tristeza é uma maneira da gente se salvar depois.
Não é que eu não quisesse ser feliz antes, não, não é isso não. Mas tem dias que a vida parece tão enrolada que quando a gente vê, parece que quebrou o salto no engodo das intrigas e mesquinharias cotidianas.
Andar de ônibus é engraçado. Não sei se você percebeu. Cada um fechado em seu mundinho, vendo a vida passando na sua janela. Agora com esse negocio de fone de ouvido então! Aí é que cada ser dentro do mesmo pequeno espaço vira uma ilha, rodeado de outras pessoas igualmente ilhadas, sentindo a solidão matinal em direção ao trabalho. Eu gosto de andar de ônibus mesmo assim.
E para você não achar que estou louca e misturando os assuntos, sabe aquele breve momento em que você se dá conta de que está vivo? Sensação boa e que ao mesmo tempo intriga a gente, é estranho não? E foi assim hoje comigo. Pensando na vida, é como se eu tivesse acordado, como se juntasse as peças de um quebra cabeças de infinitas peças cuja figura mostrasse que é possível sim ser feliz depois da infância e da adolescência.
É como se vendo tudo o que tem me acontecido, todos os fatos e idas e vindas, pessoas e oportunidades me enchessem de esperança, de um jeito que quando sinto o vento que vem da janela, sorrio, pensando que o clima parece até o do Natal. Poderia ser mais bobo?

As pessoas no ônibus devem é estar pensando “mas por que essa menina sorri tanto? Deve ser é doida”. Vai ver ser feliz é isso, brincar de doida e sorrir entre desconhecidos. 

Em busca da trilha de volta ou a little bit of me

Eu não me perdi... Apenas foram seis anos que pareciam seis vidas... Quando tudo começou era desprentensioso, apenas desabafos que viravam textos e dúvidas e para mim, canções... Canções das quais nunca consegui me desfazer... Mas que a certa altura também não conseguia mais escrever.
Falta de inspiração? Não
Mas o que antes era uma forma de não sufocar sendo sufocada em meio a faculdades e trabalhos e romances e amizades e família e tantos sentimentos que acabei achando que era melhor deixar para lá do que transformar em algo belo e ainda aliviar a alma.
Então deixei esse mundo de lado e fui viver... Fui estudar... Fui conhecer gente... Abandonar gente... Deixar coisas chegarem, deixar outras para trás, dizer sim pro que eu negava, dar adeus ao que me agarrava... Acertei assim assim.. errei outros "assins" e no meio de uma noite de sexta feira me dou conta de que não dá para fugir daquilo que está dentro da gente.
Posso não ter mais a dor de cotovelo, mas há a angústia de ser a companhia perfeita. Posso não ter mais a dúvida sobre estar na faculdade certa, mas restam os desafios de estar na carreira certa. Posso ter a certeza do que sou em família, mas será que terei a capacidade de criar minha própria família?
Acho que o que me trouxe aqui de volta foi essa compreensão: de que nunca saberei de nada, exceto que não tem como esconder a imensidão universal que existe dentro de mim, imensidão que se não for explorada da maneira correta, transforma tudo ao meu redor em um buraco negro que vai sugando tudo e quando me dou conta, estou perdida como no começo, quando a única coisa que eu sabia era o ônibus que devia tomar para ir para a faculdade, sem saber que o que aconteceria dali para frente deixaria consequências em cada um dos meus dias...
Se perdi a mão? Não sei, espero que não...
Vamos ver?
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