Confissão

Se vim aqui é porque fiz coisas más.
Tirei o pouco de esperança que tinhas naquilo que te cerca. Fiz-te de pequena uma grande adulta, desde cedo te mostrei o que há de escuro e mentiroso no ser humano.
Tirei o brilho de teus olhos, transformado em opaco pelas lágrimas, marquei teu rosto pela tristeza, gelei teu coração e impedi que te relacionasses com teu próximo.
Criei e fiz brotar em ti a semente da desconfiança, da autopiedade, da dúvida, alimentei em teu íntimo o gosto pela solidão, pela escuridão, pelo vazio.
Das tuas brincadeiras infantis, nada restou além da responsabilidade precoce, da culpa, da mentira familiar, do abandono. Brincadeiras solitárias, bonecas quebradas, bebês verdadeiros...
Mas cresceste doce menina... e acompanhei de perto esse teu crescimento....
Da tua passagem para a adolescência eu te trouxe uma rejeição, falta de informação e a dúvida. Não sabias o que te acontecias e eu não deixei que ninguém te explicasse. Tiveste sempre que aprender sozinha, afastei de ti as possibilidades de clareza e compreensão das mudanças e diferenças.
De teus relacionamentos tirei a estabilidade, tirei a afetividade e a sinceridade. Aprendeste as coisas certas, minha menina, mas sempre através das pessoas erradas. Foste apostada, pré julgada, má interpretada. Tiraram tua liberdade, tua capacidade. Fizeram de ti dependente emocional por anos, fizeram com que duvidasses de ti mesma, e eu sempre ali a observar, impassível, às vezes até contribuindo para tudo o que te acontecia, afinal, se vemos algo errado e não fazemos nada, temos culpa no que acontece, não?
Te traíram, te enganaram. Sempre creste no amor, e no entanto eu sempre te trouxe os amores menos recomendáveis. Sempre te fiz crer que eles seriam eternos, mas eu sabia que não eram. E teu coração já frio, foi gelando cada vez mais.
Trouxe dificuldades no teu trabalho, sabia que ele jamais te realizaria. Tirei de ti a vontade de ir atrás de coisas novas, acabaste desistindo de tudo. Inclusive de mim.
Venho então pedir-te perdão pelos meus erros, que acabaram te fazendo ser o que és hoje, uma alegria contagiante, mas que não contagia a ti mesmo, e por isso soa falso. Estás sempre rodeada de amigos, e sempre sorris, mas no fundo choras a cada dia, sentindo-me em tuas veias. E agora isso afeta a mim também. Agora sei tudo o que te fiz, mas não há como voltar atrás.
Espero que não me roubes de um todo. Não, não terias tal coragem. Estaremos juntas até o fim. E, bem, não sei prever minhas atitudes, tua instabilidade vem de mim, então, nada posso fazer a não ser confessar-me e assumir minha culpa. Apenas peço que não desistas de mim.
Seja então o que tu quiseres!!!

Vida




Lua Aaliyah

Astronauta de gesso

“Na lua o lado escuro é sempre igual
No espaço a solidão é tão normal...”

Sexta feira. Manhã. Nublada, mas quente. Havia sido acordada as seis e meia da manhã, isso para alguém que sofre com as ausências de Morfeu (isso para insônia soar poético) é algo um tanto grave.

Ali estava, só em casa. Em frente ao seu computador lia os comments das poucas pessoas que visitavam seu blog – poucas, mas importantes!!! – e começava a ver que tudo se encaixava de forma esquisita.

Estivera a olhar a lua. Era sabido por todos o quanto ela era atraída por esse astro, daí o próprio nome dela. Mas essa não era a única coincidência. Não era muito dada a filosofia, mas dessa vez deixou-se levar. E viu as semelhanças.

Lá estava ela. Sozinha. No meio de tantas companhias. Todos a admiravam, a achavam linda, embora cheia de fases, com um jeito encantador, atraente, companhia literária marcante, até mesmo só para se ficar calado, ali perto, olhando; ela estava ali, tão palpável e ao mesmo tempo tão inatingível. E ela era genial, sempre correta (aliás, foi vendo os comments desse post que surgiu o pensamento deste novo post. Seria esse um post do post? Enfim, continuemos...), todos a achavam certinha, sempre com sua regularidade, nada de inesperado acontecia, quando muito um eclipse raro que encobria sua face bela ou seu sorriso, mas nada que fosse além de uma lágrima ou duas, apenas uma sombra em sua luz; era sempre admirada pelo seu jeito, pelas nuances que a envolviam. Mas, na verdade, ninguém sabia o que se passava em seu lado escuro, que era sempre igual.

E parecia que ninguém se importava com isso. Bastava apenas que ela estivesse ali, a animar quem a via. E na maioria das vezes a pessoas sequer prestavam atenção no esforço dela para estar sempre ali. Toda noite era assim. E mesmo quando ela não aparecia, pouco fazia falta. Apenas alguns poucos sentiam que havia algo muito mais além do que um simples reflexo da luz do Sol que chega até nós em noites claras.

Esses pensamentos a deixaram tonta na outra noite. Ao acordar e ver os comments, aí que deu o clique, entende!?

A genialidade que ela não queria ter era proporcional ao medo de perder essa aparente clareza que a equilibrava no fio da navalha. Continuava não querendo filosofias. A manhã havia chegado. Estava aumentado o calor. O pensamento da outra noite passara. Agora era vida real. Genialidade. Correção. Admiração. Escuridão....

É melhor arrumar minhas coisas e cuidar de não enlouquecer ainda este ano.

Fuso Horário

Tem dias em que me perco, dias em que fujo
Dias em que me escondo em cortinas de fumaça
Tem dias em que abro a ti meu coração
Alguns dias sou só sua, outros dias, não

Há dias em que conto e há dias em que me calo
Me fecho em lágrimas, me encerro no quarto
Mas há dias em que os sorrisos nunca me faltam
Alegrias em tristezas que em mim se guardam

Tem noites, antes de dormir, que juro que penso
Viver a vida inteira em prol de um único momento
Sentir cada gota do sopro do vento chegando
Até mim, respirando, soprando, vivendo...

Há dias em que me entrego a um sentimento
À raiva, ao amor, ao sonho ou ao medo
Então não me escondo, vou do céu ao inferno
Dias em que quero ter tudo ou não sei o que quero

Em mim sei, há alguém que não sabe o que é
Se me olho no espelho ele busca viver
Parece ser um alguém que não tem medo de ser
É alguém com quem não sei como lidar
Quer ser feliz e esquecer o que de mal se deu

Há dias tão calmos que até me arrependo
Palavras não ditas, idéias não feitas
Os dias em que tenho as asas cortadas
São sonhos desfeitos e a busca do nada

Tem dias porém que tudo parece dar certo
As coisas vão para frente, os planos acontecem
Mas é raro isso acontecer, e acontece mas é raro
E sempre parece que não vai acontecer
É raro!...

Lua Aaliyah

Aterro...

" Miles de lunas pasaron
y siempre ella estaba en el muelle
esperando..."


Ela via o mundo passando pela janela do carro. Seu ângulo de visão agora era outro. Pensava, pensava, pensava... Por que não conseguia parar de imaginar coisas que talvez nunca fossem acontecer? E assim ela viajava... Mas não conseguia não se deixar levar por tudo aquilo. Mais uma tarde, lá ia ela, sempre a tornar, a ir ao mesmo lugar. E o mesmo lugar era onde sempre ela tinha ido, não muito distante, sempre ali, dentro dela mesma. E ela pensava.
Engraçado, quando a gente sente nunca escreve do mesmo jeito. Que portal será esse que separa as idéias das palavras? Então ela não escrevia, apenas sentia, e não podia partilhar o que se passava em sua mente.
A hora chegava. O Sol se punha. Era aquela época em que Sol e Lua ficavam no céu ao mesmo tempo, à tardinha, e ela lembrou de uma música que dizia que isso não era possível. Mas, que mentira, ela sentia e pronto, o Sol se ia e a Lua sempre ficava só no céu estrelado. E ela ria disso... sozinha no meio de tantas estrelas...Era estranho.
E ela não entendia o porquê de sentir falta de algo que jamais tivera. Mas, o que temos propriamente? O que é propriamente nosso? Não estava afim de questões filosóficas.
Queria apenas o afagar em seus cabelos, o abraço no fim de um cansativo dia, um sorriso, um piscar de olho, queria apenas chegar em casa e lhe dar o chocolate que havia comprado ao passar em frente a loja de doces e lembrar dele. Queria saber se ele tinha gostado do livro que ela lhe recomendara ou então comentar sobre o cd que ele a emprestara. Queria mostrar o quanto gostara do pingente em forma de Lua que ele havia lhe dado, ou ver que ela havia acertado no número da jaqueta, e que agora ele não mais se resfriaria ao apanhar chuva e trabalhar no ar condicionado...
Não. Não era bem assim que acontecia. Ali estava ela vendo a vida passar pela janela de seu carro. Estranho a rua tão livre àquela hora, geralmente ao anoitecer o trânsito está um caos. Mas parecia que pelo menos naquele dia o até o destino tinha pena dela...
Sempre a esperar... E a estrada pareia a levar para o vazio... Nesse mundo distante além do barulho do mar... Ninguém ao lado, caiu a noite, sentiu o frio...

"I don't mind spending every day
Out on your corner in the pouring rain, oh
Look for the girl with the broken smile
Ask her if she wants to stay awhile
And she will be loved
Please don't try so hard to say goodbye..."


Lua Aaliyah

Curriculum vitae II

Filha da Luz. Vivendo a lira dos 20 anos. Livre.
Rua onde sua casa fica, número da sua casa.
Seu bairro.
Número de sua coleira, ops, telefone celular.
Não adianta numero de recados, não os dão.

*Formação profissional

Estudou sempre no mesmo lugar, não teve a chance de conhecer coisas novas.
Local:Mundinho fechado.
Período: desde que chegou na cidade até terminar o prazo de validade.

Faculdade de sonhos e ilusões perdidas, curso de enganar-se a si próprio, habilitação em tapar o sol com a peneira.
Local: Pequeno grande mundinho ilusoriamente mais aberto.
Período: Do fim do prazo de validade anterior até uma data estelar desconhecida.

*Experiência

Noivado mal sucedido
Cargo: Mãe, irmã, amiga e namorada nas horas vagas.
Descrição:Período de relacionamento longo, porém não intenso, movido pelo costume que acabou pela falta de muita coisa. Lapso de serenidade que motivacionou o término.

Paz e viço
Cargo: Amiga e companheira de si mesma.
Descrição: Período de paz interior, saídas com as amigas, falta de preocupações e despertar de elogios provindos do sexo oposto. Acabou por burrice.

Namoro enganoso
Cargo: Mãe, confessora, auxiliar de professora e namorada muito de vez em quando.
Descrição: Relacionamento curto porém aparentemente intenso. Substituído por longas jornadas de trabalho que culminavam em reuniões de coordenadoria nos bares do Montese.

Falta de sentido em algumas coisas
Cargo: Procuradora de significado no que rodeia.
Descrição: Sentir a vida passar sendo tomada por uma sensação de fracasso, substituída logo após pela sensação de que tudo é possível. Ainda nesse cargo.

*Extras

Tia, aspirante à santa, resolvedora de pepinos e conselheira de todas as horas. Cuida sempre de todos.

*Pretensões

No fim das contas, nem eu sei mais o que eu quero.

Curriculum Vitae

Aos 5 anos: Descobri que tudo o que minha irmã mais velha fazia era culpa minha.

Aos 7 anos: Percebi que escola nem sempre é tão divertido quanto a gente imaginava...

Aos 10 anos: Notei que a professora sempre inventava de olhar meus cadernos justo no dia em que eu não tinha feito a tarefa.

Aos 12 anos: Vi que alguma coisa em mim estava mudando, mas ainda não sabia explicar muito bem o que era...

Aos 14 anos: De repente, pensar em beijar os meninos não era mais algo assim tão nojento e absurdo.

Aos 16 anos: Vi que pintar o cabelo de roxo, passar lápis vermelho no olho, botar um crucifixo no pescoço e vestir preto para parecer diferente só me deixava ainda mais igual a todos

Aos 17 anos: Primeiro deslize para entrar no mundo dos adultos. Descobri que a coisa que você acha que vai te fazer feliz nunca é o que seus pais querem pra você...

Aos 18 anos: Não mudou muita coisa dos anos anteriores... Maior? Só na idade mesmo...

Aos 19 anos: Percebi que a vida universitária é muito mais do que se imagina, e que justo os professores mais chatos são os que dão em cima de você, e os mais legais são os mais sérios nessa área...

Aos 20 anos: Tive jogado na cara que a vida não é mesmo um filme de amor....

Aos 21 anos: Aprendi que basta ser eu mesma e pronto... o resto que se dane..
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