"Não é bem uma questão de agir certo ou errado. É poder te olhar e ver que você está bem, que está dormindo bem, que essa loucura toda não está te afetando tanto.
E no meio da mais linda música tem o barulho das buzinas e motores lá fora, enchendo nosso céu azul de cinza, mas lembrando dessa triste realidade que acho que não nos cabe manobrar.
Quero te ver bem. Fica bem pra que eu me iluda em ficar bem também. Mente um pouquinho pra mim. Assim me faz crer que a vida é um pouquinho menos miserável do que ela de fato é.
Estou doente, sinto-me doente, caindo, enfraquecendo. E é até feio pedir tua energia assim, mas eu sempre fui egoísta, sabes. Mal de quem se criou sozinho.
Finge que está bem. Nunca quis, nunca quero te abandonar. É só um jeito meio torto de estar presente, que um dia eu descubro como fazer direito. Pena que o normal seja as pessoas irem e virem umas das vidas das outras. Não quero ir da tua, mas tenho medo de ter ficado grande demais pro meu cantinho aquecido nela. Não reclamo do vento, nem da chuva. Ela caindo sou eu lavando minha alma de fora pra dentro.
Agora que é hora não consigo dizer “tchau”. Eu nunca soube como dizer. Até nessas desimportâncias não levo muito jeito. Preciso que me ensines. Preciso que me ensines a dizer “tchau”, a ver a luz no fim do túnel e não queimar as retinas, a ser grande o suficiente para poder acabar antes da tragédia, respirar fundo, olhar o caminho e tudo bem, caminhar em frente e continuar andando..."

.:Já parou pra rodar?:.

"Talvez eu não devesse ter... Enfim... Não, não quero ir pra casa. Não tão rápido. Não vou dobrar ali, já que vim pela 13, não pego a rotatória, sigo em frente e pego a rua da casa da mana. Acho que não sei se estou bem... Vontade de pensar. Vou mesmo passar direto e volto pela Barão de Studart. Ainda é cedo...
Queria entender por que ela me odeia, afinal, o que eu fiz? São amigos?
Se é ciúme, de que seria? Não estou tirando nada dela... Era pra ter dobrado aqui... HiperBompreço... Motorcycle fechado na noite de terça feira... Ah, a pastelaria fechou! Só por que eu ia chamar o Du pra vir comigo na quinta! Já sei, sigo em frente, faço um retorno e volto pela 13 mesmo... Sentido oposto... Espero que ele não esteja mais na parada de ônibus...
Chegar em casa, fazer o trabalho do Patrício, e ver se o encontro online... Dizer que fiquei mal, que foi sem querer... Que quando ele estiver com ela, vou ficar na minha. Afinal, disputar a atenção dele nesta altura da vida e do campeonato é algo q não faço nem a pau... droga.. Rua errada.. também né...1ª à direita, 1ª à direita numa avenida só poderia voltar pra onde estava, nunca na direção contrária! Dããããã pra mim!
Deixa... Eu pego a Desembargador... A luz da reserva agora que acendeu...
Se eu colocar no msn "queimando gasolina pra não queimar meus neurônios" ele vai sacar.. E vai ficar culpado... Melhor não... Mas na verdade é isso... ah droga.. só entra nessa ruazinha...
Putz, onde é que eu tô? Caramba, parece uma favela... Escuro pacas... Seja o que for, não pára, acelera, acelera, acelera... Ufa... Ali no sinal deve ser a Desembargador... "melhor se perder na cidade do que dentro de si mesma" Poderia colocar isso... Mas ele se noiaria também.
A cidade é bem diferente à noite... Nem sei como vim parar aqui... Simplesmente saí dirigindo do Cantinho, e acabei aqui, dirigindo, pensando demais, pensando que estou pensando demais, queimando a reserva do tanque de combustível.
Tanta coisa... Rodando... Caixa Econômica... Catatau... Assembléia... Pão de Açúcar... Pe. Valdevino... Ali na placa até ensina como chegar... 1ª direita, 1ª de novo... Outra ruazinha estranha. Acho que é pra poder saber que tenho essa liberdade de fazer isso. Se ele soubesse me matava... Sozinha a essa hora da noite, num carro sem fumê por essas ruas desertas!
E pior que vai acabar sabendo... É o tipo da coisa que não guardo pra mim. Chegar em casa vou acabar fazendo um texto e pondo no blog...
Eles tiraram mesmo os buracos daqui... Pelo menos até aqui, no Super família... Pra quê a buzina?! Mas ali não tinha nenhum sinal vermelho! Dirijo há anos por aqui, e conheço todos... Ou será que tinha? Ops, acho que talvez poderia ter... É o segundo sinal vermelho que avanço hoje, ando muito pensativa... bom tomar cuidado...
Bom. Olha... Espero que ela não feche minha garagem... Muito bem, não fechou!... Não tem muitas baratas, vou descalça mesmo. E se ela reparar por que estou descalça? Ah, cansada, estou nesse salto desde as 7 da manhã, são mais de 10 da noite, quero nem saber...
Lembrar de levar o fichário lá pra cima... Se eu o encontrar peço desculpas de novo... Apesar de nem saber se de fato estou errada..."

..:Be Alone:..



E no décimo dia, Deus olhou em volta. Tudo feito, tudo criado, e parecia tudo incompleto, sem sentido. E então, Deus criou os solitários como nós dois.
E junto com os solitários, criou-se o sentido das estrelas e do luar no céu, as palavras começaram a rimar musicalmente, e as harmonias começaram a fazer efeito. As brancas nuvens passavam e eram notadas, os sonhos começaram a ser sonhados e ansiados, a lágrima começou a ter um significado a mais. Ah, com os solitários as palavras também passaram a ter um sentido a mais, e então tudo ficou mais difícil de se expressar e maior de se sentir...
Solitários... Assim como a gente...

...::Sempre Pouco Tempo::...




Queria apenas pensar na vida, entrou no carro e deu a partida. Precisava apenas de uma saída, a cem por hora na avenida.

Era curto o caminho até em casa... Eram poucos os sinais vermelhas na pista... Era escasso o tempo da canção...

Entre curvas e pensamentos, tantas coisas a serem decididas. Não havia tempo para a vida correndo pela janela do seu carro preto. Nem o casal saindo da maternidade com o filho recém nascido. Era passado no retrovisor agora... Seria aquele um conhecido seu? Agora estava para trás, distante... À frente apenas algo conhecidamente desconhecido.
Sem sinais, sem paradas, era tudo muito rápido, tudo girando a 150. Queria diminuir para ter o sabor de ver tudo passar mais lento, mas não conseguia desligar aos poucos.
Depois de rodar, e rodar e passar embaixo da platarforma, uma marcha a menos... Duas marchas a menos... Três marchas a menos, a luz vermelha.
Pensava na vida, na falta desta, dinheiro, seu amor, sua dívida,sua dúvida, sua música... Distraiu-se olhando mãe e filho atravessando... Bonita cena, no colo, ainda pequeno, indefeso, um dia teria mais de um metro... Isso era sempre algo bonito... Mãe e filho... Mãe e filho... Mãe e filha... Filha da mãe!... Sinal aberto, buzina na traseira, chama-a de volta.
Marchas a mais, vento a mais, uma lágrima a mais, uma vida a mais, tempo a menos.
As pessoas sempre absorvidas em suas vidas, dentro de seus veículos em congestionamentos, reclamando; a via livre para que acelerasse. Não compreendia o prazer da pressa que tinha quando não podia correr, e da vontade de demorar a chegar, ou simplesmente de nem ir, se a avenida fosse toda sua...
Última curva, sobe, e pára.
Não sabia se os últimos nove minutos haviam sido reais, sonhados, irreais ou simplesmente anestesiados pela fantasia na qual submergiam seus confusos pensamentos. Em todo caso, se em algum instante tinha saído, agora estava de volta. Abrindo portões para o desconhecidamente conhecido.

Era grande o sentido de tudo e sentia o pesado vazio do mundo. Parecia um sem fim o caminho ao fundo e restava sempre a intensa vontade do absurdo...

Lua Aaliyah

Diálogo



— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura.
Tenho medo de cair para dentro de você.
Há nos seus olhos castanhos certos desenhos
que me lembram montanhas, cordilheiras vistas
do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus
olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão
e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra.
Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que
pude, sem sequer perceber que estava plantada num
desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida.

Rita Apoena
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