Entre transportes públicos e seus passos apressados, ela ia pela cidade. Era um daqueles dias meio de sol, meio de chuva, como uma ânsia que não sabe se fica alegre ou triste.
Acordara sentindo-se estranha. Feia, talvez? "A solidão enfim não me deprime. Acho que as nuvens estão indo embora." As palavras não lhe saíam da cabeça. Gostava de ficar quieta. No seu canto.
Mas as pessoas, sempre em seus grupos, faziam sempre muito barulho. Aqueles que implicam com a ideia do homem ter vindo do macaco nunca devem ter reparado que as pessoas só andam em bandos. E as pessoas que passavam por ela, igualmente em bandos, conseguiam ser mais barulhentas que seus fones de ouvido tocando AC/DC no volume máximo, mais barulhentas que sua mente ruidosa.
Preferiu então buscar um canto mais tranquilo, onde pudesse ouvir o som da própria respiração. "A solidão enfim não me deprime." Olhou para o vazio. Sorriu. E começou a escrever.
"No fundo as pessoas tem medo de estarem consigo mesmas. É tão estranho, parece que fica todo mundo olhando pra gente. Sabe aquela sensação de que só existimos a partir do momento em que interagimos com outras pessoas? Balela, eu sei, você me diz, mas é como se sentissem até certa pena de mim, sentada, sozinha, escrevendo, enquanto por todo lado sempre há tanta gente.
Devem achar que sou uma chata. Ou talvez, uma esnobe. Mas ninguém consegue perceber que eu sou simplesmente tímida. Claro, no mundo em que vivemos é muito mais fácil julgar por aquilo que se vê do que conhecer, afinal, é tudo tão superficial que as pessoas acabam com medo de contatos mais profundos. E tudo o que consigo ver são pessoas extremamente solitárias rodeadas por um mar de gente em relações vazias e superficiais.
Vai ver, é porque para ter algum tipo de relacionamento mais profundo com alguém é preciso, antes de mais nada, saber estar consigo mesmo. E gostar."
Tinha começado a chover. Entre vozes, passos, música e a batida do seu coração, aquele era o melhor som que poderia ouvir.
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