Amores são sempre possíveis?

Say Something by A Great Big World on Grooveshark
 III - Something

 Bom, era isso. Fazer o quê? Sabe aquele momento em que parece que já não resta muito o que fazer? Àquela altura ela se sentia estranha, queria ter tudo, não queria ter nada, queria sumir. Queria? A felicidade pode ser uma droga. Não no sentido de ser algo ruim, mas no sentido de ser algo que vicia, que se torna doloroso, da qual você precisa se afastar para ficar bem. Como a expressão "é tão bom que dói". Por que dói. Aliás, crescer dói. Amar dói. Escolher dói. Às vezes parece que a grande constante do universo não é outra coisa senão a dor.
***
Tinha ficado triste. Nem sabia por que. Haveria motivo? Ela mesmo quem desistira de tudo, jogara tudo pro ar. Mas, jogara mesmo? Será que é possível jogar para o ar algo que de fato nunca tivemos? Ela não sabia se tinha tido de verdade o momento em suas mãos, a vontade, o sentimento, ele. Por que não dizer logo de uma vez com todas as letras? Agora era tarde. Era? A vida nos impõe mais perguntas que respostas. O que ela sentia ia aumentar? Não sabia. Diminuir? Não sabia. Mudar? Muito menos. O que ela vivia ia melhorar? O que ela escolhia, iria acertar? O caminho que seguia, para onde a iria levar? Não sabia. Não queria. Não entendia. Tentava se manter presente, mas a mente a fazia pensar longe. Longe. Além das nuvens chuvosas lá fora. Nele. Não sofria. Não chorava. Não sorria. Apenas sentia algo forte em seu peito e algo triste em seus olhos sempre distantes. Talvez o erro fora nunca estar presente. E na calada, assim, calada, ela esperava. Desistira. Achava que desistira. É possível desistir de algo pelo qual não se lutou? Lutou? Adivinha...

Amores são sempre possíveis?

12. Somente Nela - www.CdsParaBaixar.Org by Paulinho Moska | www.CdsParaBaixar.Org on Grooveshark
II - Conjunto Ceará/Aldeota

Era um dia daqueles, sabe? Congestionamento danado na rua, hora do rush de final da tarde, parecia que tinha muita gente em todo canto. E eu perdido no meio daquilo tudo. Ela estava sentada no ponto de ônibus, lendo. Vi pela capa que era um autor que eu nunca tinha ouvido falar. Mas ela era tão bonita... Que fui lá perguntar pra ela.
***
- Com licença... O Conjunto Ceará/Aldeota para aqui?
- Sim, passa... Passou um agora mesmo.
- Ah sério?!? Obrigado...
- Por nada.
- Caio Fernando Abreu?
- Sim. O ovo apunhalado. Conhece?
- Claro! Gosto muito dele. Os livros dele são tão... como poderia dizer...
- Densos? Me diz, qual seu preferido?
- Esse aí que você está lendo.
- Qual o texto?
- Ah, aquele que ele fala de... Você sabe, aquele super conhecido... Ok, admito, nunca tinha ouvido falar desse cara antes...
- Imaginei... É um bom autor se você gosta de pensar na vida.
- E o que você pensa tanto sobre a vida?
- Que sempre nos fazemos muitas perguntas, e quando mais respondemos, mais perguntas surgem.
- Isso foi uma indireta?
- Ah não, desculpe, é que...
***
Ele chegou assim do nada, falando comigo, e foi logo me enchendo de pergunta, sabe? Todo intelectual, mas estava na cara que ele nem sabia quem era Caio Fernando Abreu na vida! Mas confesso que achei interessante, diferente o jeito dele de falar. Ele prestava uma atenção tão grande em cada palavra que eu dizia, me olhava tão profundamente nos olhos que parecia que eu já conhecia ele a minha vida inteira.
***
Destino, amor à primeira vista, química, chame do que quiser! Eu só sei que torcia, a cada ônibus que vinha, para que não fosse o meu e nem o dela. Eu queria saber tudo o que pudesse do que se passava na cabeça dela, coitada, deve ter ficado tonta com tanta pergunta que eu fiz. Eu poderia ficar ali a noite inteira conversando com ela, falando da vida, da morte, do que quer que fosse. Era como um sonho...
***
- Tudo bem. Você escreve?
- Eu? Eu tento... Mas e você, gosta do que? Faz o quê? Lê o quê?
- Eu gosto de inventar vidas. Gosto de observar as pessoas e contar histórias reais, irreais, sonhos...
- Você é escritor?
- Não... Não... Eu só tento me salvar em vidas que só podem ser realizadas quando escritas.
- Bonito isso, mas, se salvar de que?
- Da vida...
***
Quanto mais ele falava, mais eu me perdia em cada palavra que ele dizia. Astrologia, poesia, música, culinária, filosofia, celebridades, literatura, história da arte, falamos sobre tantas coisas aquela noite. Tudo o que ele falava soava tão marcante, tão poético! Parecia que eu estava em transe, hipnotizada, não sei. Só sei que eu não queria que aquela conversa acabasse nunca. Mas infelizmente, meu ônibus surgiu ao longe.
***
- Você vem nesse ponto todo dia?
- Não... E você?
- Também não... E bem, parece que é meu ônibus vindo ali.
- Mas já? Eu ainda nem sei o seu nome!
- É Alice.
- Muito prazer, Luís.
...
- Boa noite. Foi muito bom conversar com você.
...
***
Juro que não sei o que eu esperava que fosse acontecer nos segundos antes de subir. Um torpor tomou conta de mim, queria que ele me beijasse, queria que ele segurasse minha mão, não me deixasse subir. Queria que ele tivesse subido junto. Tivesse pedido meu telefone, e-mail, qualquer coisa. Não sei o que queria. Eu já ia subindo no ônibus quando tudo o que consegui foi virar para trás e gritar "Leia 'Para uma avenca partindo!'". E a porta se fechou atrás de mim. Depois que o ônibus partiu, e passei pela roleta, ainda olhei para trás e o vi acenando para o Conjunto Ceará/Aldeota. E tudo o que me sobrou foi a lembrança.
***
Lembro de cada palavra da nossa conversa. Eu nunca tinha lido o tal caio Fernando Abreu, e vou agradecer eternamente a ela. "Para uma avenca partindo" é perfeito. Parecia que ela já me conhecia. No instante em que a porta fechou atrás dela, senti que ia me arrepender o resto da vida por tê-la deixado subir naquele ônibus. E me arrependo ainda hoje. Por que não pedi o telefone dela? O e-mail? Qualquer coisa! Fui várias outras vezes naquele ponto, no mesmo horário, mas nunca mais a vi. Paixão fulminante? Amor? A definição não interessa mais. Só a memória daquela noite...

Amores são sempre possíveis?

Retalhos de cetim by Zeca Baleiro on Grooveshark
I - Imitação Pura

Olha, eu queria te dizer que foi muito bom ter te reencontrado, mesmo que tenha sido só um almoço rápido, sim, sim, agora que a gente se reencontrou, vamos nos rever mais vezes, mas eu queria dizer que você ainda está linda como nos tempos de faculdade, nossa, quando a gente se achou na internet eu só pensava naquela garota que achava que a música poderia mudar o mundo e que esbarrava nas coisas a cada meia hora, mas claro que lembro de quando a abelha picou a ponta do seu dedo dentro do carro enquanto você dirigia, é, coisas que só acontecem com você, sim, também teve quando você tropeçou e ralou todo o joelho, todo mundo riu, e você ficou vermelha, linda, tão bonita como quando eu chegava na faculdade e te via ao longe, sentada, lendo, ah sim, quero bolo de chocolate com sorvete de sobremesa, não, eu não sabia que você não comia mais doce, então um café mesmo, pode ser? dois cafés, por favor, algumas coisas mudam, você gostava tanto de doces, você não precisa emagrecer, você nem se preocupava tanto com o peso, e sim com quantos filmes você conseguiria ver em um final de semana, é, tem razão, eu também não sou mais o mesmo observador da alma humana, estou mais prático, sim, a idade chega, mas fique tranquila que não chegou para você, acontece que ainda não disse o que eu queria dizer, adoçante? eu não consigo beber café assim, sem açúcar nem nada, nossa, mas já precisa ir mesmo? eu ainda tenho tanto a dizer, eu te acompanho, é que você sabe que eu gostava tanto de você, e aquele dia em que ficamos juntos, sim, eu lembro de como você ficou envergonhada, e enquanto estava na expectativa de te ver de novo eu lembrava tanto de você naquele tempo, e vendo você agora, é, eu sei que você gostava de mim, e não me pergunte isso por que eu não sei porque a gente não deu certo, fico feliz que você tenha pensado nisso, não, isso não é mais sobre eu ou sobre você, é sobre aquele momento que passou e se perdeu, deixa que eu seguro a porta pra você, acontece que a gente, eu principalmente, ainda gosto muito daquela garota da faculdade, sim, é isso, você também sente falta daquele cara, isso, amigo, e depois de tanto tempo, somos tão diferentes agora que pensando bem, não sei se quero repetir esse encontro, por que será que esse novo nós se daria tão bem quanto a ideia de nós dois de antigamente? não, você sabe que eu não estou complicando nada, se bem que nesse aspecto acho que não mudei nada, eu só quero... não, não sei o que quero, tá certo, desculpe, sei que você está atrasada pro trabalho, então a gente se fala e termina essa conversa depois, se cuida, você está linda, tão linda quanto a ideia que eu tenho de você, dirige com cuidado, tchau...
...
Acho que não sabia se te amava....

Who do you love?

Me or the thought of me?

...::Desejo de ano novo::...



Pra minha vida, eu quero mais paciência e menos força. Mais seriados e menos filmes. Mais música e menos prosa. Quero o sopro quente da rua em meus cabelos e o ar frio da noite em minha pele. Quero liberdade. Quero mais família e menos sobrinhos. Continuar jovem – ainda que de espírito – sem fazer todos esses jogos e contas mirabolantes para enganar o tempo que passou e a idade que avança. A vida está apenas começando. A cada dia. A cada hora. A cada instante. Quero mais razão e menos sensibilidade. Mais verão e menos outono. Não quero orgulho nem preconceito. Quero mais ser e menos ter. Menos tédio e mais tardes. Menos rotina e mais espontaneidade. Quero paixão arredia, impossível de saciar. De esquecer. E revelar. Quero chuva de noite, parada de ônibus, quero surpresa no olhar. No sorriso. Beijo roubado.  Quero o impossível. Quero o ser humano. Quero o ser amado. Quero ser reconhecida por quem em sou, não pelo potencial do que eu possa vir a ser. Quero fazer um bom trabalho. Quero um amigo. Quero uma amiga. Fazer as pazes com a comida e engolir de uma vez só tudo aquilo que é a vida. Quero realizar cada sonho do tamanho do meu mundo e ter novos sonhos que vão além do meu mistério. Do meu universo. Quero continuar sendo maior que meu corpo, mesmo sentindo a dor de não caber dentro dos frágeis limites da minha pele.  E quero reaprender a transbordar a enxurrada de sensações e loucuras da minha retina fatigada. Saber falar, recomeçar a escrever, reaprender a ler. Quero pensar mais em mim. Pensar o tempo certo em ti. Planejar o futuro sem fechar espaços para novidades e imprevistos, sempre com a certeza de que muitas ideias vão mudar, entender outras vão dar errado e é isso que chamamos de presente. Respirar fundo e entender que timming is a bitch e que eu vou sempre querer e querer e querer. Mesmo que muito do que eu queira eu já não possa ter. 
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