
Olha eu aqui de novo, com você aos meus pés, falando sobre a efemeridade da vida e achando bom. Apenas corro os dedos pelo teu rosto, teus cabelos, e como dói te ver assim tão linda, tão perto, tão pura, tão branca... E eu aqui, vendo teu cabelo vermelho manchar a alvura da tua pele, novamente ouvindo você se perguntar onde foi que você errou. Mas não tem como uma pessoa como você errar. No fundo ninguém nunca erra, a vida é que nos faz perder o timming dos acontesentimentos. E se a questão não for a similaridade? De quem é a culpa quando um dia se acorda e não se tem mais a impressão de que aquela pessoa deitada ao seu lado é a "sua pessoa"? Você está com a sensação de que o sorriso já não é mais o mesmo, a piada já não tem a menor graça, a presença é estranha. Ah baby, quer coisa mais estranha que quando vocês saem para jantar e fica aquele silêncio constrangedor? Cada um começa a olhar pros lados, sem coragem de ver um nos olhos do outro que eles estão comendo a morte. Não meu amor, ninguém errou aqui não. É só a vida que faz essa coisa de desejar e sentir ser algo tão maior, mas tão maior que a gente que faz a gente sentir obrigação de dar sempre certo. E nunca vai dar certo, por que isso implicaria em não haver erros. E na verdade, ninguém de fato erra, mas o que deixa a coisa engraçada é a sensação de que também nunca acerta.
A gente não tem como adivinhar, vidinha. Seria erro depois de tanto tempo derrubar o véu e sentir que o que você sempre pensou esteve ao seu lado? É questão de timming, já disse, puro timming.
Mas aí a gente berra, e deita, e chora e se descabela por que os ponteiros do relógio biológico andam de forma meio capenga. Eu já perdi a conta de quantas vezes me deu essa sensação de raiva, sabe, por que quando a gente olha, a vida é uma grandessíssima filha da puta...
Ah, mas e vale a pena quebrar o salto por uma coisa dessas? Não baby, não fica assim não. vamos tomar uma vodca, ouvir um bom e velho blues e deixar que pelo menos o feeling tome conta do nosso coração...