Não falo nada

Tão cansado, você tem vontade de ficar quieto, enrolado, deitado na cama vendo algum filme de Fellini, ou talvez Truffaut, alguma coisa antiga e obscura que lhe faça ficar pensando em como a vida é um jogo, e vai ficar se lamentando e se remoendo por cada pequena bobagem que não deu certo hoje num loop infinito de autocomiseração, e então comerás demais e beberás em excesso se maldizendo do ônibus lotado e da bolha no calcanhar causada pelo sapato apertando o pé por longos quarteirões e por ter descido no ponto errado, e tudo o que quer é ficar sozinho por que nessas horas a gente superdimensiona e não percebe que aquela barata voadora gigantesca e nojenta não passa de uma formiguinha com asas, dessas que aparece depois que chove, e você está tão cego de raiva, medo e preocupação que nem percebe que no fim, a solução não é tão complicada, e aí se perde, jogado no quarto, só de cueca, olhando pro teto, a cabeça fervilhando ideias incompletas enquanto algum cavaleiro joga xadrez com um anjo bobo, ou talvez a morte, não interessa, só que você sente frio e está tão absorvido nesse redemoinho de  oversized troubles que nem a lembrança dela o acalenta, mas na verdade, você sabe que é exatamente a lembrança dela que acalma seu coração, e você foge de atender o telefone quando toca e é ela ligando, por que somos assim, ficamos tão presos ao mal-estar de um dia ruim que este parece que só se completa se o mundo todo souber que nos sentimos miseráveis por que uma coisa deu errado ou complicou, ou simplesmente por que somos egoístas e queremos permanecer envoltos na espessa fumaça poluída da autopiedade que embaça nossa mente e deixa passar os pequenos raios de luz que tentam adentrar através da névoa e nos fazer ver que por mais que neguemos, os clichês têm sua razão e no final, a solução é mais simples do que se perder pensando no problema, e quando acaba, tudo se resolve e a gente pode parar para ver um romance, uma comédia quem sabe, algo com uma música alegre e uma iluminação em um tom tão quente quanto a leveza que a vida toma quando a gente respira fundo e entende que não é o fim do mundo e que na verdade, não importa saber o que acontece, e sim quando e como acontece...

0 Seus Mistérios:

Tecnologia do Blogger.