Cartas para lua

Eu nem sei se eu devia te dizer isso, mas hoje eu acordei com uma vontade danada de ser feliz. Não sei se foi a manha bonita e fresca – coisa rara nestes tempos de agosto, ou talvez o Cazuza me falando para dar o meu desprezo a você que me ensinou que a tristeza é uma maneira da gente se salvar depois.
Não é que eu não quisesse ser feliz antes, não, não é isso não. Mas tem dias que a vida parece tão enrolada que quando a gente vê, parece que quebrou o salto no engodo das intrigas e mesquinharias cotidianas.
Andar de ônibus é engraçado. Não sei se você percebeu. Cada um fechado em seu mundinho, vendo a vida passando na sua janela. Agora com esse negocio de fone de ouvido então! Aí é que cada ser dentro do mesmo pequeno espaço vira uma ilha, rodeado de outras pessoas igualmente ilhadas, sentindo a solidão matinal em direção ao trabalho. Eu gosto de andar de ônibus mesmo assim.
E para você não achar que estou louca e misturando os assuntos, sabe aquele breve momento em que você se dá conta de que está vivo? Sensação boa e que ao mesmo tempo intriga a gente, é estranho não? E foi assim hoje comigo. Pensando na vida, é como se eu tivesse acordado, como se juntasse as peças de um quebra cabeças de infinitas peças cuja figura mostrasse que é possível sim ser feliz depois da infância e da adolescência.
É como se vendo tudo o que tem me acontecido, todos os fatos e idas e vindas, pessoas e oportunidades me enchessem de esperança, de um jeito que quando sinto o vento que vem da janela, sorrio, pensando que o clima parece até o do Natal. Poderia ser mais bobo?

As pessoas no ônibus devem é estar pensando “mas por que essa menina sorri tanto? Deve ser é doida”. Vai ver ser feliz é isso, brincar de doida e sorrir entre desconhecidos. 

Em busca da trilha de volta ou a little bit of me

Eu não me perdi... Apenas foram seis anos que pareciam seis vidas... Quando tudo começou era desprentensioso, apenas desabafos que viravam textos e dúvidas e para mim, canções... Canções das quais nunca consegui me desfazer... Mas que a certa altura também não conseguia mais escrever.
Falta de inspiração? Não
Mas o que antes era uma forma de não sufocar sendo sufocada em meio a faculdades e trabalhos e romances e amizades e família e tantos sentimentos que acabei achando que era melhor deixar para lá do que transformar em algo belo e ainda aliviar a alma.
Então deixei esse mundo de lado e fui viver... Fui estudar... Fui conhecer gente... Abandonar gente... Deixar coisas chegarem, deixar outras para trás, dizer sim pro que eu negava, dar adeus ao que me agarrava... Acertei assim assim.. errei outros "assins" e no meio de uma noite de sexta feira me dou conta de que não dá para fugir daquilo que está dentro da gente.
Posso não ter mais a dor de cotovelo, mas há a angústia de ser a companhia perfeita. Posso não ter mais a dúvida sobre estar na faculdade certa, mas restam os desafios de estar na carreira certa. Posso ter a certeza do que sou em família, mas será que terei a capacidade de criar minha própria família?
Acho que o que me trouxe aqui de volta foi essa compreensão: de que nunca saberei de nada, exceto que não tem como esconder a imensidão universal que existe dentro de mim, imensidão que se não for explorada da maneira correta, transforma tudo ao meu redor em um buraco negro que vai sugando tudo e quando me dou conta, estou perdida como no começo, quando a única coisa que eu sabia era o ônibus que devia tomar para ir para a faculdade, sem saber que o que aconteceria dali para frente deixaria consequências em cada um dos meus dias...
Se perdi a mão? Não sei, espero que não...
Vamos ver?
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