Eu nem sei se eu devia te dizer isso, mas hoje eu acordei
com uma vontade danada de ser feliz. Não sei se foi a manha bonita e fresca –
coisa rara nestes tempos de agosto, ou talvez o Cazuza me falando para dar o
meu desprezo a você que me ensinou que a tristeza é uma maneira da gente se
salvar depois.
Não é que eu não quisesse ser feliz antes, não, não é isso
não. Mas tem dias que a vida parece tão enrolada que quando a gente vê, parece
que quebrou o salto no engodo das intrigas e mesquinharias cotidianas.
Andar de ônibus é engraçado. Não sei se você percebeu. Cada
um fechado em seu mundinho, vendo a vida passando na sua janela. Agora com esse
negocio de fone de ouvido então! Aí é que cada ser dentro do mesmo pequeno
espaço vira uma ilha, rodeado de outras pessoas igualmente ilhadas, sentindo a
solidão matinal em direção ao trabalho. Eu gosto de andar de ônibus mesmo
assim.
E para você não achar que estou louca e misturando os
assuntos, sabe aquele breve momento em que você se dá conta de que está vivo?
Sensação boa e que ao mesmo tempo intriga a gente, é estranho não? E foi assim
hoje comigo. Pensando na vida, é como se eu tivesse acordado, como se juntasse
as peças de um quebra cabeças de infinitas peças cuja figura mostrasse que é
possível sim ser feliz depois da infância e da adolescência.
É como se vendo tudo o que tem me acontecido, todos os fatos
e idas e vindas, pessoas e oportunidades me enchessem de esperança, de um jeito
que quando sinto o vento que vem da janela, sorrio, pensando que o clima parece
até o do Natal. Poderia ser mais bobo?
As pessoas no ônibus devem é estar pensando “mas por que
essa menina sorri tanto? Deve ser é doida”. Vai ver ser feliz é isso, brincar
de doida e sorrir entre desconhecidos.