.:A long, long time ago:.



Não, não há culpados. Ninguém tem culpa do que aconteceu. Não me pergunte pelos erros do passado e assim, quem sabe, eu te perdoe os teus...
Quisera a gente poder saber quais seriam as consequências de nossas escolhas, a gente não se puniria tanto por tudo o que aconteceu. É sempre tão difícil lidar com as atitudes dos outros, principalmente se este outro é você. Mas não, não há como te condenar pelos teus excessos e pelas minhas faltas, ausências. Fica sempre a sensação de que quando ainda temos algum tempo de sobra, a gente acaba chegando cedo demais. E só nos resta esperar que o tempo passe e alivie a pressão no peito e nos olhos.
Mas eu acredito que o pior é nunca ter a certeza do com quem acontecer. E todas as receitas para te esquecer me restam insossas e falíveis. Vai ver o céu nublado seja menos misterioso que todas as escolhas e atitudes.
Acontece que eu tinha imaginado tanto, e em cada devaneio só era latente o desejo de deixar tudo isso para trás, e num inexistente passe de mágica, simplesmente te guardar em meus braços, te protegendo de tudo o que aconteceu. Mas meu lado egoísta ás vezes insiste em dar mostrar de seu caráter e se pergunta quem vai saciar a vontade dele de esquecer o que te aconteceu também.
Não é simples, a gente sabe...

Dias de...

Por que faz tão pouco tempo que estamos afastados, e a mim muitas vezes parece que faz toda uma eternidade... E quando fico assim, abandonado no sofá ouvindo toda uma série de músicas que eram nossas, me vem à mente muitas e muitas lembranças mais... E más... E boas também.
E fico sempre pensando, imaginando que lembranças foram as que ficaram pra você de tudo o que aconteceu. Se é do meu sorriso enquanto eu dormia que você sempre disse que eu tinha... E que você adorava... Ou se você lembra de quando eu te molhava com a mangueira quando a gente lavava o carro. Minhas bermudas com chinelas, e o cabelo sempre bagunçado...
Eu daqui lembro de tanta coisa...
Sentir é sempre algo estranho, estamos completos, mas sempre nos falta. Lembro de você despenteada, chegando do mercado, cheia de sacolas, reclamando do salto que tinha quebrado no caminho de volta. E eu ria, ria perguntando por que você havia ido de salto fazer compras pra casa.
Hoje eu entendo.
Os saltos eram parte de você. Você poderia estar de tênis, descalça, de cara limpa, toda arrumada, mas aquela simplicidade elegante era parte de você. Lembro do seu sorriso quando me via, e pulava no meu pescoço. Muitas vezes me derrubava... Mas eu me sentia feliz.
E agora que a casa está vazia, eu quase, quase posso tocar isso que eu sinto no meu peito. E não, não falo do meu coração.
É que de repente tudo ganhou mais espaço, e intensidadde. E me sinto capaz de descrever a textura áspera, úmida, fria e pegajosa do que sinto agora. E ninguém devia, nunca, ninguém devia se perder assim, sem sinal, sem aviso prévio. As pessoas não deveriam partir sem avisar. Ou eu não deveria ter sido cego ao ponto de não ver tuas malas prontas pra sair da minha vida. E acho que dessa vez você demora a voltar. Numa outra vida somente, quem sabe.
De duas pessoas o que resta é apenas esse espesso vazio. E não há onde eu encontre o conforto que tinha antes. Em nenhum outro abraço. Pois quando paro pra fitar as estrelas, tem uma constelação a me lembrar do teu jeans surrado.
E cubro meus sonhos, meu corpo, meus ouvidos com os lençóis ainda manchados, repetindo pra mim mesmo que é apenas mais um dia, que logo tudo volta ao normal (mas não volta, a gente sabe), encolhido quietinho, esperando o filme da sessão da tarde começar, indo para outra vida, outra história ali da televisão, onde acabo te encontrando, e você, com flor no cabelo, me abraça e repete que agora passou... Já passou, está tudo como deveria ser... Pois mesmo quando você rouba minha paz ainda é tua imagem que me pacifica por dentro. E mesmo que a eterna sombra do que poderia ter sido e não foi me persiga, embaixo das cobertas, encolhido feito bebê assustado, ainda sinto tudo menos áspero e pegajoso, como se em cada mancha um sussuro teu me aquecesse maciamente, sempre repetindo que passou... passou... passou...

Pssssss....
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