Viu o ônibus parado na plataforma e saiu correndo. Tentou ainda a última poltrona vaga, mas a educação da outra garota não permitiu que ela sentasse. Ficou em pé, recostada na barra vertical metálica que fica na metade das conduções. A má educação de um moço sentado fez com que ele pedisse para segurar as coisas que ela levava. E la ia... Em pé... Vendo o caminho passar...
Pára. Abre a porta. Sobe gente. Um homem loiro, olhos muito azuis, pele muito vemelha de sol provavelmente, a indefectível bolsa carteiro preta a tira-colo...
- Bom dia a todos! Estou aqui para falar sobre a tentação das drogas e de como muita gente tem se perdido nesse caminho. Infelizmente eu mesmo já fui há três anos um desses viciados. Por causa das drogas eu perdi os meus amigos, perdi alguns parentes mas graças ao bom Deus estou hoje aqui, lutando pelo meu espaço...
Sabia esse discurso de cor. Todos diziam a mesma coisa, que tinham se salvado graças ao bom Deus - e existe algum mau Deus? - e que aquela era a forma que eles tinham de agradecer o que eles conseguiram na vida, blá, blá, blá...
- Essa canetinha semi automática na cor azul e essa outra caneta, vejam só, com a extremidade emborrachada, protetor de bolsos, também semi automática, que nas livrarias chega a custar dois reais ou dois e cinquenta, vocês vão estar levando aqui comigo por apenas um real. A caneta na tinta azul e a com extremidade emborrachada com protetor de bolsos com tinta na cor preta. Apenas um real, essa é sua contribuição...
Texto decorado... Entrecortado pelos "Deus te abençoe" e "Muito obrigado".
Tudo bem... Dá dois reais, espera o troco, guarda as canetas e o papel na bolsa... Ainda em pé. nunca tinha estados naquelas bandas da cidade. Muita coisa nova. Mas o discurso, esse era decorado.
Nova parada. Pessoas descem. Pega as coisas com o moço sentado e senta logo bem mais a frente, atrás da poltrona mais alta. Cadeira do corredor. Olha distraidamente para a janela, mas a menina ao lado parece não gostar. Ciúmes de uma janela? dane-se...Queria olhar e pronto.
Do nada uma sanfona ao fundo. Susto coletivo no coletivo.
Ao fim do ônibus um homem cego se levanta e começa a tocar. Não entendia muito de sanfonas, mas era nítido que aquela estava desafinada. Doía ouvir, mas, fazer o quê? Opção não lhe restava.
"...toda menina que enjoa da boneca é sinal que o amor já chegou no coração..." E pouco depois parava de cantar. Recebia algum trocado. Agradecia com o "Deus te guie", "Deus te acompanhe". Silêncio.
...
Nova música. Novo susto.
"...quem é o fí de uma égua que dormiu com a minha amada..." A mulher ria alto. A outra explicava onde era o montese. Ele se aproximava da porta da frente. Estava chegando perto. Novos agradecimentos. Agora sem silêncio, outra música.
"...ele não pensa em querer-te, te faz sofrer e até chorar..." A seu lado ali estava, sem ritmo, tom, afinação ou qualquer coisa que o valha. Sentia fome e o clima fechado e quente lhe atrapalhava. não se sentia bem, a música ruim piorava tudo. O sanfoneiro não tinha um dos olhos...
Sentiu-se fora de tempo e espaço.
Ele desceu... Mais gente subiu... Calor... Enfim uma parte conhecida do trajeto. Estava perto de casa.
Perfume forte. Conversas altas e desencontradas. Calor, calor, calor. Estava só...
Levantou, desceria logo após a curva. O rapaz que segurou suas coisas também. Estava a sua frente. Olhou... Sorriu... Não agradeceu novamente e nem lembrava se tinha agradecido antes. Desceram... Cada um foi por um lado...
Enfim, casa...
É hora de fazer o próprio almoço e comer só...
Lua Aaliyah
Pára. Abre a porta. Sobe gente. Um homem loiro, olhos muito azuis, pele muito vemelha de sol provavelmente, a indefectível bolsa carteiro preta a tira-colo...
- Bom dia a todos! Estou aqui para falar sobre a tentação das drogas e de como muita gente tem se perdido nesse caminho. Infelizmente eu mesmo já fui há três anos um desses viciados. Por causa das drogas eu perdi os meus amigos, perdi alguns parentes mas graças ao bom Deus estou hoje aqui, lutando pelo meu espaço...
Sabia esse discurso de cor. Todos diziam a mesma coisa, que tinham se salvado graças ao bom Deus - e existe algum mau Deus? - e que aquela era a forma que eles tinham de agradecer o que eles conseguiram na vida, blá, blá, blá...
- Essa canetinha semi automática na cor azul e essa outra caneta, vejam só, com a extremidade emborrachada, protetor de bolsos, também semi automática, que nas livrarias chega a custar dois reais ou dois e cinquenta, vocês vão estar levando aqui comigo por apenas um real. A caneta na tinta azul e a com extremidade emborrachada com protetor de bolsos com tinta na cor preta. Apenas um real, essa é sua contribuição...
Texto decorado... Entrecortado pelos "Deus te abençoe" e "Muito obrigado".
Tudo bem... Dá dois reais, espera o troco, guarda as canetas e o papel na bolsa... Ainda em pé. nunca tinha estados naquelas bandas da cidade. Muita coisa nova. Mas o discurso, esse era decorado.
Nova parada. Pessoas descem. Pega as coisas com o moço sentado e senta logo bem mais a frente, atrás da poltrona mais alta. Cadeira do corredor. Olha distraidamente para a janela, mas a menina ao lado parece não gostar. Ciúmes de uma janela? dane-se...Queria olhar e pronto.
Do nada uma sanfona ao fundo. Susto coletivo no coletivo.
Ao fim do ônibus um homem cego se levanta e começa a tocar. Não entendia muito de sanfonas, mas era nítido que aquela estava desafinada. Doía ouvir, mas, fazer o quê? Opção não lhe restava.
"...toda menina que enjoa da boneca é sinal que o amor já chegou no coração..." E pouco depois parava de cantar. Recebia algum trocado. Agradecia com o "Deus te guie", "Deus te acompanhe". Silêncio.
...
Nova música. Novo susto.
"...quem é o fí de uma égua que dormiu com a minha amada..." A mulher ria alto. A outra explicava onde era o montese. Ele se aproximava da porta da frente. Estava chegando perto. Novos agradecimentos. Agora sem silêncio, outra música.
"...ele não pensa em querer-te, te faz sofrer e até chorar..." A seu lado ali estava, sem ritmo, tom, afinação ou qualquer coisa que o valha. Sentia fome e o clima fechado e quente lhe atrapalhava. não se sentia bem, a música ruim piorava tudo. O sanfoneiro não tinha um dos olhos...
Sentiu-se fora de tempo e espaço.
Ele desceu... Mais gente subiu... Calor... Enfim uma parte conhecida do trajeto. Estava perto de casa.
Perfume forte. Conversas altas e desencontradas. Calor, calor, calor. Estava só...
Levantou, desceria logo após a curva. O rapaz que segurou suas coisas também. Estava a sua frente. Olhou... Sorriu... Não agradeceu novamente e nem lembrava se tinha agradecido antes. Desceram... Cada um foi por um lado...
Enfim, casa...
É hora de fazer o próprio almoço e comer só...
Lua Aaliyah