Ritalina com Café

 Dizem que mente vazia é a oficina do diabo. Isso é porque não conhecem o inferno que é uma mente ansiosa. Dos milhares de cenários possíveis para uma situação, ela parece sempre escolher as piores. Eu sei que ninguém vai aparecer armado para roubar meu cachorro, mas ainda assim, preciso engolir as lágrimas em quase todos os passeios.

Um inferno. Uma mente que precisa de três comprimidos de duas substâncias diferentes logo cedo pela manhã e outros dois pela tarde para ser minimamente funcional é um inferno. E a infinidade de pensamentos e sentimentos que tomam conta dessa mente é uma verdadeira legião. Passado e futuro se misturam em um presente quase sempre confuso em que há dias impossíveis de discernir o que é real do que não passa de vozes falando bobagem na nossa cabeça.

Um inferno no qual nem tudo é danação, principalmente nos dias em que a mistura "bate bem", quando a Rita e a Flor se encontram e, juntas, elas danças à beira-mar. E nesses momentos, o que antes era só inferno se enche de canção, dessas com percussão forte, acordes maiores, que nos dão a sensação de que podemos conquistar o mundo! E junto com a sensação de bem-estar vem a fúria por precisar dos malditos comprimidos para poder me sentir daquele jeito.

Mas é tudo fugaz. O mar, a canção, a coragem, a fúria... Até o inferno é fugaz às vezes, porque é tanta coisa junta-ao-mesmo-tempo-agora que ele se transforma em limbo, onde as coisas não doem, mas também não dançam. Onde não há o sim, mas também não existe o não.

Seria esse limbo o que chamam de vida?

Queria ser como os outros
com suas rotinas
conversas banais
amizades frívolas
nada de mais
cerveja na porta
petiscos e tais
"Olha aqui que gostosa
pegava demais!"
a novela e o filme
a vida em linhas gerais
a alegria comprada
que o dinheiro traz
mas tão falsa e doída
que não admitem jamais
mas ainda assim
queria ser como os outros
que não sentem demais

..::De mais Ninguém::..

De mais ninguém by Marisa Monte on Grooveshark

 Apertando o nó da garganta
Inspirando a falta de ar
Engolindo a lágrima a seco
Segurando a onda de choro
Amarrando as cordas vocais
Num soluço em laço perfeito
Enfrentando a barra do peito
Botando ordem na alma...

..::Fazemos o que Podemos::..

Se eu puder passar, eu passo
Se eu puder entregar, entrego
Se eu puder fazer, eu faço
Se eu puder negar, eu nego

Se eu conseguir chegar, eu chego
Se eu tiver que ligar, eu ligo
Se no fim eu puder pagar, eu pago
Se eu puder pegar, eu pego

Se eu puder chamar, eu chamo
Ou se for só pra escrever, escrevo
Se for preciso comer, eu como
Se necessitar dormir, eu durmo

Se tiver que resolver, resolvo
Se eu puder fazer algo, eu faço
Se for preciso esperar, impaciento
Se eu tiver que me acalmar, me acalmo

Se eu puder então chorar, eu prendo
Se é preciso compreender, entendo
Se eu conseguir amar, eu amo
Se eu tiver como viver, eu vejo...

Admirável Mundo Novo

É chegado um tempo em que podemos dizer o que pensamos, mas não devemos. Não devemos por que sempre vai incomodar alguém. E é proibido incomodar quem quer que seja.
É um tempo no qual você pode ter a opinião que quiser, desde que seja igual a do próximo. Da maioria. De todos. Um tempo no qual você precisa se justificar após emitir um comentário. Precisa se desculpa antes mesmo de alguém se sentir ofendido. Por que sempre vai ter alguém para se sentir ofendido. Um tempo no qual a pressão por pensar diferente faz com que cada vez mais as pessoas pensem de maneira igual. Uniforme. Superficial. Um tempo no qual se cita mil e um teóricos para explicar o que se pensa, mas nunca se faz nada na prática.
É chegado o momento em que fingimos que gostamos do programa de TV ou do filme, ou então, calamos. Em que fazemos isso muitas vezes por preguiça de discordar e enfrentar as consequências. Tempo em que calar é a melhor saída para evitar a fadiga.
Um tempo em que se pode pensar livremente, falar abertamente, e ser tão - ou mais - julgado por isso quanto nos tempos em que havia limites, censuras, opressões.
Mas a censura não vem de um ser superior, uma entidade que se considera master.
A censura agora vem da pessoa sentada a seu lado na faculdade, do seu amigo no Facebook. A censura vem de nós mesmos. É chegado o tempo da ditadura do próximo, tempo no qual refreamos e pensamos duas, três, quatro, mil vezes antes de fazer algo, medindo e calculando o impacto do que vamos falar ou fazer. A pena? Nada de torturas ou prisões. Algo pior. O julgamento do outro. A espera pela aprovação e a agonia pela desaprovação. Uma vida contada em likes, thumbs up, shares, comments, regrams, e outros estrangeirismos mais, já traduzidos.
É chegado o admirável mundo novo. E o governo, esse não mete mais medo. Somos nós mesmos que amedrontamos.

>>> Sobre a ignorância

"Na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor."

Eclesiastes 1:18

Eu que não sei nada do mar
Fui tragada pelo turbilhão de ondas
Meu corpo inerte agora flutua
Entre espumas sob a vastidão do céu azul

Eu que não sei nada do amor
Me perdi e me deixei levar
E sem saber de mim também
Me equilibro entre o sentir e o dizer

Eu que não sei nada da vida
Apenas aprendi a respirar
E entendi que a solidão é um aprendizado
E os dias se passam da forma como dá

Sobre a vida e o tédio ou seria o sentido?



Você chega em casa à noite, depois do trabalho, e por um segundo fica contente quando se dá conta de que não tem ninguém em casa. Joga as coisas em cima do sofá, caminha até o quarto, tirando a camisa e respirando fundo... Tira os tênis, meias, talvez troque a calça jeans por uma bermuda, talvez fique de jeans mesmo até a hora do banho... Tanto faz...

Vai até a cozinha, abre a geladeira. Tem queijo, presunto, pão... Arroz, feijão, bife... Ou nada... Você pega uma maçã. Tem fome, mas, tanto faz... Sem ânimo para preparar algo mesmo...

De volta ao quarto, liga a TV. Nova temporada de Game of Thrones... Ninfomaníaca estreando no Telecine, reprise de Friends na Warner, programa de culinária para homens no Fox Life... Você vai zapeando de canal em canal, do começo até o fim, sem parar em canto algum. Afinal, tanto faz...

Olha o celular. Uma mensagem dela. Alguma coisa engraçada talvez. Talvez apenas um oi. Talvez diga que está com saudade. Mas depois você lê, tanto faz...

Você levanta e toma um banho. A água gelada é desconfortável mas... Fazer o quê. A fome aperta, e você faz um sanduíche qualquer de qualquer jeito. Então as pessoas chegam em casa e começam a fazer barulho. E você pensa em morar sozinho, mas, tanto faz...

De volta ao quarto, liga o computador. Dicas para facilitar o dia a dia no SOS Solteiros. Pornografia para baixar pelo torrent. Músicas para baixar pelo MP3 Skull. "Encontrar a trilha sonora daquele filme novo..." Vídeos de entrevistas, podcasts sobre filmes, pesquisa preço de livros em sites, pensa em comprar um novo tênis... Facebook, nada de novo. E-mail, nada de novo. Tem trabalho para fazer, texto para escrever, conta para pagar... E de volta ao começo. Nesse eterno looping de sites e redes... A ordem tanto faz...

Vai dormir. Acorda, toma banho, toma café, o mesmo de todo dia. Nunca muda. Vai a pé para o trabalho. É mais prático. Pela manhã, o estômago dói. Após horas em frente ao computador, pela tarde, a cabeça dói. No caminho de volta para casa, a alma dói.

Mas no final, não era de sentir dor todo dia mesmo, por dentro? Por que, você pensa consigo mesmo que a vida às vezes não passa de uma roda de hamster, igual a que você vê na loja de animais que passa em frente todo santo dia. O ratinho lá, correndo, sem destino certo, apenas por que sente que é preciso correr. Assim não era ele? Assim não era o mundo?

Então você está de volta em casa, dessa vez tem gente na sala vendo TV, sua mãe na cozinha fazendo jantar. mal você atravessa e ela lhe enche de perguntas. "O que você quer jantar?", "Viu que essa lâmpada queimou?", "Você pode levar sua irmã para a aula amanhã?", "O que você prefere, levá-la ou buscá-la na aula amanhã?".

E você respira fundo, joga as coisas no sofá, em silêncio vai até o quarto, tirando a camiseta. Tira os tênis, as meias, pensando na vida, na roda do hamster, no rato, dizendo para si mesmo "tanto faz"...

.:Macabéa:.



Houve um tempo em que eu achava que a questão era ter tudo. Era preciso ter tudo e assim não ia mais doer.
Era preciso família, amigos, dinheiro amor... e não ia mais doer.
Era preciso diversão, ostentação, moda, luxo... e não ia mais doer.
Era preciso força, vontade, paciência... e não ia mais doer.
Então me armei com o que pude e fui à batalha. Fiquei próximo da minha família, conquistei amigos, trabalhei por dinheiro e encontrei um amor. Mas ainda doía.
Fui em busca de me divertir, comprei coisas para ostentar, me vesti com o que era tendência, fiz coisas pelas quais não podia pagar. E continuou a doer mais.
Busquei forças de dentro de mim, mantive minha meta, meditei para ter mais paciência. E ainda assim, doía.
Eu achava que era uma questão de ter. Depois uma questão de ser. Mas me olho no espelho e vejo que tenho o que quero, mais do que isso, tenho exatamente aquilo que preciso, vejo que sou em boa parte aquilo que eu um dia quis ser, mais exatamente, sou aquilo que nesses anos todos eu tenho conseguido ser.  

Então, que demônios são esses que ainda me fazem doer por dentro?

.:Efêmero:.



O tempo não para e a gente ainda passa correndo..
As pessoas têm o segredo da felicidade da palma da mão, mas se perdem entre telefonemas não dados, decisões adiadas, informações não buscadas...
São tão poucas as oportunidades que quase nos esquecemos delas, e as deixamos passar no meio de tantas tarefas,  horários a cumprir e satisfações a dar. E no final, onde vamos parar com isso? 
Quer dizer, o que fica além do vazio ao final do dia e a sensação de que esqueceu de alguma coisa, mas não sabe do que?
Acontece que a gente esqueceu mesmo... 
Esqueceu de sorrir um pouco, de mandar um olá, de dar bom dia... 
Esquecemos do mundo que existe dos nossos fones de ouvido para fora, das paredes de nosso trabalho para rua, dos limites da nossa internet para  fora.
E voluntariamente nos afastamos daqueles que amamos. Até que ele vai embora e então é que a gente se dá conta do quanto tempo estivemos fora. 
E esse tempo a gente não mede em segundos, minutos e dias... 
É o tempo da ausência, da falta de notícias, do aparente descaso com a vida além da própria, dos problemas além dos próprios,  o tempo em que não se segurou a mão, olhou no olho, mesmo calado. Tempo da ausência...
Por que a vida, essa filha da mãe, é repleta de ausências, e nós cruelmente, criamos a cada dia mais e mais ausências. 
Me pergunto por que não é tão mais fácil criar contatos e presentes... 
Por que em vez de resolver uma última questão antes de ligar, a gente não dá um tempo e manda mensagem... 
Ou antes de escrever aquele último parágrafo, a gente apenas não respira fundo e sorri, por que não é que o trabalho foi exaustivo. É que enfim acabou.
Mas hoje esse tipo de  coisa ficou relegado a frases de efeito em textos de auto ajuda...
E é tosco dizer tudo isso...
Quero morrer brega...

Right here waiting

Hoje eu me senti sozinho. Pela primeira vez em meses. E eu que achava que nunca mais fosse me sentir assim.
Não que se sentir só seja algo estranho em si...
Eu só tinha desacostumado da sensação de não saber.
Não saber se está tudo bem...
Não saber se eu posso ligar...
Não saber se eu ainda posso contar...
Não saber o que está acontecendo direito...
Eu sei, ninguém é perfeito.
Eu não sou e não quero que ninguém seja
Senti vontade de te ligar. Ou mandar mensagem.
Nem era nada de importante
Era só para saber como você estava
Mas achei melhor esperar...
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