Dizem que mente vazia é a oficina do diabo. Isso é porque não conhecem o inferno que é uma mente ansiosa. Dos milhares de cenários possíveis para uma situação, ela parece sempre escolher as piores. Eu sei que ninguém vai aparecer armado para roubar meu cachorro, mas ainda assim, preciso engolir as lágrimas em quase todos os passeios.
Um inferno. Uma mente que precisa de três comprimidos de duas substâncias diferentes logo cedo pela manhã e outros dois pela tarde para ser minimamente funcional é um inferno. E a infinidade de pensamentos e sentimentos que tomam conta dessa mente é uma verdadeira legião. Passado e futuro se misturam em um presente quase sempre confuso em que há dias impossíveis de discernir o que é real do que não passa de vozes falando bobagem na nossa cabeça.
Um inferno no qual nem tudo é danação, principalmente nos dias em que a mistura "bate bem", quando a Rita e a Flor se encontram e, juntas, elas danças à beira-mar. E nesses momentos, o que antes era só inferno se enche de canção, dessas com percussão forte, acordes maiores, que nos dão a sensação de que podemos conquistar o mundo! E junto com a sensação de bem-estar vem a fúria por precisar dos malditos comprimidos para poder me sentir daquele jeito.
Mas é tudo fugaz. O mar, a canção, a coragem, a fúria... Até o inferno é fugaz às vezes, porque é tanta coisa junta-ao-mesmo-tempo-agora que ele se transforma em limbo, onde as coisas não doem, mas também não dançam. Onde não há o sim, mas também não existe o não.
Seria esse limbo o que chamam de vida?