Quem sabe era apenas mais uma menininha andando pelas ruas, sozinha...
Lembro de minha mãe dizendo que chovia por que São Pedro estava lavando a casa dele no céu. E que os trovões eram ele arrastando os móveis, eos relâmpagos eram ele acendendo as luzes... E que eu não tinha por quê ter medo de trovões e relâmpagos... Engraçado, eu nunca tive medo, eu adoro trovões, sou fascinada por relâmpagos, enquanto ela não dorme sozinha em noites de tempestade.
Mas essa não chegava a ser uma tempestade.
Era uma linda chuva fina, quase uma fumaça de água descendo dos céus, me molhando suavemente o rosto, sem machucar. E ainda assim o dia estava claro. Aquele cheiro de cidade do interior tinha gosto de infância com bolos de chuva e café quentinhos.
Enquanto todos corriam eu apenas caminhava em direção de casa. Não entendo por que as pessoas têm medo da chuva. É só água caindo do céu.
Eu cantava também, uma música lenta, como aquela garoa que caía. E tudo parecia fazer sentido, letra, música, água, chuva, pareciam fazer amor e bailar entre as gotas agora mais espessas, que caíam e escorriam pela minha pele. Provocavam-me arrepios com seus prazeres, seu toque.
E fazia calor, muito calor. Chovia, mas fazia calor.
E o tempo, em seu ritmo estranho parecia fazer tudo vir em câmera lenta dos meus olhos pra cima, enquanto no chão tudo se movia extremamente acelerado. Queria ficar pra sempre com a cabeça no alto então, olhando as brancas e cinzas nuvens agora despejarem sobre mim a água mais doce e clara que já vi. E ver, lá no alto, o fruto desse amor de águas claras e luz forte e quente. Nada como um arco íris no fim da manhã para lhe saudar. Vale a pena se encharcar por uma breve visão suave em tons pastéis. Foi só por um minuto, mas durou todo o tempo do mundo.
Valia a pena ficar toda coberta de chuva..."
Mas ela não estava sozinha, se apaixonou pela chuva que caía...